Pinto Luz em périplo pela EN2: autarcas querem "plano de intervenção" para garantir que viagem ultrapassa a "dimensão turística"
À TSF, o governante defende que, no terreno, é possível ter uma "noção mais próxima daquilo que são os problemas" vividos de Norte a Sul do país
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O ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, vai percorrer os 35 municípios da Estrada Nacional 2 (ENE2) durante quatro dias, entre terça e sexta-feira, para identificar necessidades locais no setor da mobilidade e habitação, mas também no turismo. À TSF, os autarcas alertam que, no fim da viagem, é essencial criar um plano de intervenção para o território, para garantir que são encontradas soluções adequadas às necessidades coletivas: "Se a visita se ficar pela visita, naturalmente tem uma dimensão turística muito importante, porque a viagem é muito bonita, mas depois não ganhamos muito em termos de resposta."
De Chaves para Faro, Miguel Pinto Luz garante que o Governo já tem "contactos estabelecidos" com muitos destes concelhos. "Sabemos os seus problemas, os seus anseios, aquilo que é preciso mudar, mas no terreno temos sempre outra noção mais próxima daquilo que são os problemas para serem resolvidos e é isso que queremos fazer em quatro dias e três noites ao percorrer estes 738 km", esclarece à TSF.
Sublinha igualmente que esta viagem já estava prevista desde julho, ainda antes daquela que o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, efetuou no verão. Rejeita, por isso, a acusação de que o Executivo tenha "imitado" a iniciativa socialista, argumentando que a deslocação não foi divulgada previamente para evitar "contaminar o espaço democrático saudável" das eleições autárquicas de outubro.
"Ficou decidido logo desde essa altura [julho], que seria sempre só depois das eleições autárquicas, precisamente para não se confundir com qualquer tipo de eleitoralismo ou de campanha eleitoral. Aliás, ouvi comentário do secretário-geral do PS a dizer que nós fomos atrás imitar a iniciativa dele na EN2, pois esta iniciativa — a nossa — estava marcada desde o dia 15 de julho, numa visita oficial a Vila de Rei, mas não o quisemos divulgar", sustenta.
O responsável pela tutela das Infraestruturas e Habitação admite ainda que a EN2 — que apelida "espinha dorsal de Portugal" — apresenta uma "dispersão muito grande" na oferta e nos preços das casas. Este cenário, diz, é também o "espelho do país real" e o Executivo tem de "ajudar os municípios a desenvolver políticas locais e regionais que possam colmatar essas assimetrias".
"[A EN2] atravessa territórios que foram abandonados, esquecidos em termos de investimento público durante décadas. A oferta pública de habitação é isso que também tenta desenvolver: em territórios onde os mercados não funcionam, onde há desequilíbrios entre a oferta e a procura, só a oferta pública pode conseguir reequilibrar esses territórios", entende.
A viagem de Miguel Pinto Luz arranca já esta terça-feira, em Chaves, ao KM 0 da EN2, e termina em Faro no dia 24, ao KM 738. O governante será acompanhado pelo secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Silvério Regalado, e também, em alguns troços do roteiro, pelo secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Pedro Machado.
Em declarações à TSF, o presidente da Câmara Municipal de Chaves defende a criação de um plano de intervenção no final do périplo que o ministro leva a cabo.
Se a visita se ficar pela visita, naturalmente tem uma dimensão turística muito importante, porque a viagem é muito bonita, mas depois não ganhamos muito em termos de resposta a necessidades coletivas do nosso território.
Nuno Vaz Ribeiro desafia, por isso, o Governo a fazer uma "boa identificação e diagnóstico" dos problemas vividos no território, para que possam ser encontradas as repostas mais adequadas. Lembrando que existem três EN atravessar o concelho — a EN2, EN203 e EN103 —, identifica desde logo insuficiências na "requalificação do pavimento, manutenção das bermas", bem como numa "limpeza mais capaz e cabal durante o verão".
"Isto são questões básicas que deviam estar asseguradas, mas não têm estado, infelizmente", critica.
Apela ainda ao desenvolvimento de uma "exigência que já tem mais de duas décadas": as ligações entre Chaves e Valpaços, "fazendo uma correção ao traçado da 213", assim como entre Chaves e Montalegre, "para que possa haver uma mobilidade na região mais adequada".
"Toda a gente acha que temos estradas a mais, mas ainda há territórios e concelhos que precisam urgentemente que a administração central olhe para esta questão da comunicação, porque não temos outras formas de nos movimentarmos", destaca.
Além da mobilidade e da habitação, o autarca eleito pelo PS gostava de ver outros governantes nesta viagem pela EN2, nomeadamente a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e o ministro da Economia, Manuel Castro Almeida.
"Precisávamos também que a senhora ministra da Saúde pudesse ir ao território e pudesse resolver as questões que disse que ia resolver e não resolveu até ao momento, relacionadas no caso concreto da Unidade Hospitalar de Chaves", aponta.
Já o presidente da Câmara Municipal de Santa Marta de Penaguião, Luís Machado, revela que nesta região o carro ainda é o principal meio de transporte para a deslocação para o trabalho, um fator que pesa no rendimento auferido pelos portugueses.
"Sendo certo que nos grandes centros Porto e Lisboa as pessoas conseguem-se mobilizar por pouco dinheiro e alguns de forma gratuita, é importante que o senhor ministro perceba que os nossos territórios têm de ter a mesma oportunidade, porque senão a fixação das pessoas torna-se cada vez mais difícil e mais distante", apela, na TSF.