Mais cinco parques hortícolas em Lisboa. "Cada vez mais interesse" numa forma de sustento alternativa
A Câmara de Lisboa está a projectar cinco novos parques hortícolas na cidade, duplicando a área já existente. As novas hortas devem ficar disponíveis até ao final de 2024.
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Quem chega ao Parque hortícola do Vale de Chelas, na freguesia de Marvila, parece ter saído de Lisboa.
A zona verde estende-se por 32 mil metros quadrados, onde quase não se vê vivalma. Escuta-se o chilreio dos pássaros, apenas entrecortado pelo zunzum dos automóveis que passam na Avenida Santo Condestável, uma das artérias principais da freguesia de Marvila. É aqui, num dos 219 talhões, que Joaquim Martinho, de 85 anos, passa os dias. Literalmente, de Sol a Sol, de segunda-feira a domingo. "É o meu passatempo, é a minha vida, precisa de carinho como nós também precisamos", justifica com um sorriso bem-disposto. Nascido no Norte, Joaquim sempre teve ligação à terra. "Casei e já tinha uma hortinha", recorda, enquanto vigia as couves, batatas, cebolas, feijão e favas que começou a semear há cerca de cinco anos.
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Situado na freguesia de Marvila, o Parque Hortícola do Vale de Chelas é "um dos maiores da Europa", salienta Rui Simão, chefe de divisão de manutenção e requalificação da estrutura verde da Câmara de Lisboa. O engenheiro biofísico revela que a lista de espera para este parque tem "quase cem pessoas". Há "cada vez mais interesse em ter talhões, para descomprimir do dia-a-dia e também como forma de sustento alternativo". Cada um dos talhões tem 150 metros quadrados, onde os hortelãos seguem regras fixadas pela autarquia. Desde logo, "é obrigatório o modo de agricultura biológico, ou seja, sem pesticidas e herbicidas químicos", o que garante, por exemplo, "alfaces tão bonitas e muito saborosas". Rui Simão admite que as terras do Vale de Chelas "não são muito boas", por serem "de aterro", mas o trabalho nas hortas vai "enriquecendo a terra com nutrientes", como o azoto, que sustentam não só "a parte hortícola, como também toda a vegetação que existe no parque".
Em Lisboa, existem actualmente 888 talhões, dos quais 74 encontram-se disponíveis, mas o município tem "interesse em lançar novos parques hortícolas". Até ao final de 2024, serão criados cinco novos parques hortícolas, que representam um acréscimo de 11 hectares a somar aos actuais 22 parques em 11 freguesias da cidade. Rui Simão explica que se pretende dar um talhão "a outras pessoas que ainda não tiveram oportunidade de meter as mãos na terra". Poderão, assim, seguir o exemplo de Joaquim Martinho, que poupa "na hortaliça e nas batatas" e ainda dá couves aos vizinhos que lhe pedem. "Até querem deixar um euro, um euro e cinquenta, para beber qualquer coisinha", mas "eu não bebo, só bebo água". Por isso, "ofereço a hortaliçazinha". Afinal, a horta é a menina dos olhos de Joaquim. "A mim, dá-me saúde", confessa enquanto colhe alfaces e couve portuguesa para oferecer à TSF.
A autora não escreve segundo as normas do Novo Acordo Ortográfico