Mais de cem lesados em cem milhões de euros: um detido em Portugal em operação transnacional contra fraude com criptomoedas
O esquema passava por criar páginas na Internet para criar a convicção em potenciais investidores “de que poderiam obter grande rentabilidade em ativos virtuais (criptomoeda), através de plataformas digitais”. Mas, na realidade, estavam apenas a "efetuar transferências para diversas contas domiciliadas na Lituânia"
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O esquema de fraude com criptomoedas em vários países europeus terá lesado pessoas em Portugal em mais de um milhão de euros, tendo a 'Operação Araña’ levado à detenção de um suspeito no país, que aguarda extradição para Espanha.
Uma operação transnacional que incluiu buscas em Portugal travou uma fraude com criptomoedas que, desde 2018, terá lesado mais de 100 pessoas na Europa em pelo menos 100 milhões de euros, anunciou na terça-feira a Eurojust.
Esta quarta-feira, no que diz respeito à parte da ‘Operação Araña’ que passou por Portugal, a Polícia Judiciária (PJ) adiantou que foram realizadas nove buscas e uma detenção, em cumprimento de um mandado de detenção europeu, tendo o suspeito sido presente ao Tribunal da Relação de Lisboa, estando agora a aguardar a extradição para Espanha.
A PJ adiantou ainda que entre “os ofendidos identificados, em Portugal estão prejudicados em mais de um milhão de euros”.
Em Portugal, acrescentou a PJ, “além de outros elementos de prova”, foram apreendidos seis imóveis, localizados na grande Lisboa – três apartamentos e três moradias -; três veículos de gama alta, um motociclo, cinco relógios Rolex e um relógio Hublot, 15 quadros “de elevado valor”; e cerca de 20 mil euros em criptoativos.
Segundo explicou a PJ, o esquema fraudulento passava por criar páginas na Internet para criar a convicção em potenciais investidores, cidadãos particulares, “de que poderiam obter grande rentabilidade em ativos virtuais (criptomoeda), através de plataformas digitais”.
“Porém, na realidade não estavam a realizar qualquer investimento, mas simplesmente a efetuar transferências para diversas contas domiciliadas na Lituânia, tituladas por terceiros, que apenas tinham intenção de se apoderarem dos valores ali depositados, através destes artifícios fraudulentos”, explicou a PJ.
Ainda de acordo com a nota da PJ, “muitas das burlas foram perpetradas em Portugal”, tendo os valores transferidos para países como a Lituânia sido novamente transferidos para outros países, como Portugal, Espanha, Reino Unido e Bulgária, entre outros.
A operação policial foi realizada de forma conjunta entre Portugal, Espanha, Bulgária e Lituânia, apoiada pela Europol e Eurojust.
Em causa estão crimes de associação criminosa, branqueamento de capitais e burla qualificada.
No total, o esquema desenrolou-se em 23 países, entre locais para onde os fundos foram desviados e onde residem vítimas, e o principal detido, entre os cinco detidos em toda a operação, é suspeito de fraude em larga escala e lavagem de dinheiro.
A coordenação da investigação pela Eurojust foi solicitada por Portugal e Espanha, dois dos países onde decorreram igualmente buscas.
Em Portugal, a ação contou com a participação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) do Ministério Público, da PJ e do Tribunal Central de Instrução Criminal.