A preparação para o evento é feita com antecedência, mas os artistas sublinham que a performance a que o público assiste resulta "do trabalho de uma vida".
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Focados sobretudo nas artes circenses, os Malatitsch estrearam no Festival Moods um espetáculo que entusiasmou especialmente os mais novos e cujo objetivo é consciencializar o seu público para os efeitos das alterações climáticas.
É ainda durante os ensaios que o público se começa a aproximar do grupo, que entre pinos e cambalhotas desperta a curiosidade dos petizes. Ao lado dos artistas, as crianças vão tentando recriar os movimentos que observam e que procuram dominar, aproveitando, ao mesmo tempo, a recetividade dos membros do grupo para lhes pedir conselhos.
"Tens de treinar um bocadinho todos os dias. Se treinares, tu consegues", encoraja uma das artistas do projeto Malatitsch, Joana Martinho, 27 anos.
A criação de um cenário encantado transporta a multidão, que se vai sentando com mantas junto ao Palco Equilíbrio, para um "universo de magia e emoções".
O espetáculo que vão apresentar foi pensado especialmente para o Festival Moods. Com recurso sobretudo a plásticos desperdiçados, os artistas são responsáveis pelo design e criação dos seus figurinos, adereços e performances.
"Eu já tinha feito um espetáculo há uns anos em que utilizei o plástico, mas não tinha nada a ver com as condições ambientais. Tinha a ver com um desafio de trocarmos aparelhos de circo por materiais e o tema até era o 'Circo tradicional vs o Novo Circo'. Isto foi um espetáculo que eu realizei no final do meu curso de terceiro ano no Chapitô, na minha PAP [Prova de Aptidão Profissional]. E desde essa altura que fiquei com vontade de explorar os plásticos ao máximo", conta Carmen Viegas, uma das criadoras do Malatitsch.
Para a artista, o convite do Moods para apresentarem um espetáculo sobre as alterações climáticas foi "ouro sobre azul", uma vez que já era "há muito tempo" que queria criar uma apresentação com o tema da sustentabilidade.
"Eu e a minha colega [Solene Martins] temos falado ultimamente em criar um espetáculo para alertar para as alterações climáticas e a nossa área é mesmo o circo e, por acaso, surgiu-nos o convite do Festival Moods. Foi a situação ideal", conta Viegas.
Tudo a postos e com aquecimentos feitos, o grupo começa a apresentação que alia os movimentos circenses a uma música intensa, criando a história de "um mundo em que andamos e caminhamos sobre plástico e outro em que andamos mais livres".
Mas a ideia inicial não era esta, conta Carmen Viegas: "A primeira ideia, até posso confessar, era embrulhar o mundo e no final desembrulhar e forrar o mundo de relva. Mas percebemos que isso ia demorar muito tempo no espetáculo e, então, criamos logo à partida os dois mundos."
A preparação para os festivais é feita com antecedência, mas Solene Martins, responsável pelo marketing e produção dos Malatitsch, sublinha que a performance que o público vê resulta "do trabalho de uma vida".
Durante a atuação, os artistas vão somando aplausos e é com espanto e surpresa que os mais novos comentam aquilo que veem. "Uau, como é que eles conseguem fazer aquilo?" ou "E se ela cair?" são algumas das questões que ecoam na plateia.
Ser artista em Portugal "não é fácil", mas "é possível, basta querer-se muito", afirma Carmen Viegas.
"O público é quem nos faz ter vontade de continuar", confessa.