De Bucha a Irpin. Marcelo visita cidades alvo de massacres: "É como regressar à I Guerra Mundial"
"Impressionado" com os massacres de Bucha, o Presidente da República reiterou o apoio de Portugal à Ucrânia para que os crimes de guerra sejam julgados.
Corpo do artigo
Na primeira ida à Ucrânia desde o início da guerra, Marcelo Rebelo de Sousa começou por visitar a cidade de Bucha, a norte de Kiev, onde aconteceu um dos primeiros massacres russos.
O Presidente da República depositou uma coroa de flores junto a um memorial às vítimas, construído há menos de um mês no local onde foi encontrada uma vala comum com mais de 120 corpos. Ainda em Bucha, Marcelo esteve na igreja de Santo André onde visitou uma exposição fotográfica com várias imagens que mostram a exumação desses corpos.
TSF\audio\2023\08\noticias\23\rui_polonio
Em declarações aos jornalistas, em Bucha, Marcelo afirmou que o "choque inicial" dos massacres em Bucha "não perdeu a força" e confessou estar "impressionado".
"Passado algum tempo daquele choque inicial concluímos que esse choque não perdeu força (...) Poderia ter perdido força, pois o memorial é algo mais abstrato do que ver os corpos, do que ver a vala comum. Há quem negue, mas existiu, é bom que se diga isso para nós, portugueses e poder político português. Foi muito forte aquilo que aconteceu, foi muito chocante, muito desumano e inumano, e por isso mesmo é que andamos à procura dos meios adequados para o julgamento e punição", sublinhou.
O Presidente da República assegurou que "Portugal tem sido incansável, através do Governo e da ministra da Justiça, garantindo que estaremos sempre na primeira linha, não só no apuramento da verdade, como também na criação de condições para que o apuramento final seja uma lição para o presente e para o futuro".
Marcelo reiterou ainda o apoio de Portugal à Ucrânia para que os crimes de guerra sejam julgados.
"Portugal tem estado envolvido. A ajuda que é agora pedida pode ser dada, que é na parte de apuramento da matéria de facto e nas diligências que envolvem os sobreviventes. Pretendem utilizar a experiência dos outros países em termos de investigação criminal numa matéria tão sensível e em que não há precedentes, sobretudo precedentes com um sucesso rápido", referiu.
Já em Moshchun, a cerca de dez quilómetros de Bucha, Marcelo visitou uma das trincheiras utilizadas pelos soldados ucranianos para defender a aldeia. O Presidente da República depositou uma nova coroa de flores no Memorial de Moshchun, homenageando os Defensores da Ucrânia.
Em declarações aos jornalistas, o chefe de Estado confessa que "é sempre diferente ver a imagem e ver no local uma realidade que nos faz lembrar o que era fazer guerra há mais de cem anos, o que mostra bem como é possível nos dias de hoje haver uma desproporção de meios, à partida e, no entanto, uma capacidadede defesa e resistência, anímica, com sucesso".
Marcelo disse que é como "regressar à Primeira Guerra Mundial" e "imaginar o que é o avanço de alguém com outro poderio militar e estarem ali 50, 60, 70, 80 resistentes com as munições possíveis. Só faltaram as máscaras anti-gás para ter a noção de uma forma de resistência e de luta que já não é muito destes dias".
TSF\audio\2023\08\noticias\23\x_rui_polonio_09h
"De repente, regressámos a tempos em que são milícias, brigadas, formadas sobre a orientação do presidente da câmara, que têm de responder de forma mais ou menos organizada, num estilo de guerrilha, a uma ofensiva que é muito mais forte em todos os sentidos e todas as capacidades", acrescentou.
De seguida, Marcelo visitou as obras de Bansky num edifício destruído em Horenka. Num dos prédios desta zona, o Presidente da República recolheu um jornal parcialmente queimado para dar a José Pacheco Pereira, historiador e fundador do Arquivo Ephemera.
De Horenka, o Presidente da República seguiu para Irpin, nos arredores de Kiev. Aqui, visitou a ponte Romanovsky, destruída pelas tropas ucranianas para evitar o avanço dos russos rumo à capital.
TSF\audio\2023\08\noticias\23\rui_polonio_10h
"A luta travada na ponte foi essencial", considerou Marcelo. "Percebeu-se perfeitamente como tinha sido heroico resistir aqui num momento em que ainda não se percebiam os contornos da invasão, mas percebeu-se que tinham de resistir. Pegaram nos carros, encheram de combustível e deixaram-nos ligados em condições de explodirem, como forma de bloquear o caminho", afirmou.
A TSF sabe que o Presidente da República deverá entregar a condecoração com o Grande Colar da Ordem da Liberdade a Volodymyr Zelensky ainda esta noite, em Kiev. Apesar da reunião de trabalho estar prevista para quinta-feira, a TSF apurou que ainda esta quarta-feira pode acontecer a entrega da condecoração que já tinha sido anunciada.
Marcelo Rebelo de Sousa iniciou, esta quarta-feira, uma visita de dois dias à Ucrânia.
*Com Carolina Quaresma
Notícia atualizada às 10h36