"Como a morfina, mas sem efeitos indesejados." Medicamento vem do mar para aliviar dor aguda e vai ser testado em humanos
Autora: Maria Augusta Casaca
Corpo do artigo
A Sea4Us, empresa de biotecnologia sediada em Sagres, concebeu e já fez todos os testes pré-clínicos deste produto.
A Sea4Us considera que o medicamento traz "uma esperança para milhões de pessoas com dor crónica". Esta empresa portuguesa de biotecnologia instalada em Sagres, no Algarve, e que se dedica ao desenvolvimento de terapêuticas marinhas inovadoras, concluiu os testes pré-clínicos de segurança de um analgésico não opióide, concebido para tratar a dor crónica intensa "de forma segura e eficaz".
Tudo começou há dez anos, quando foi descoberta uma esponja marinha, que se encontrava numa gruta subaquática em Sagres. Essa esponja continha uma molécula que, após muitos anos de investigação, deu origem ao S#072, um analgésico totalmente novo. "Ele vai funcionar tão bem como a morfina, mas sem os efeitos indesejados", garante em declarações à TSF o CEO da empresa. A Sea4Us explica que este medicamento "atua sobre a hiperexcitabilidade neuronal periférica, através da modulação seletiva de canais iónicos, um mecanismo que permite analgesia potente e duradoura sem efeitos no sistema nervoso central".
"Não há habituação, não há adição, nem os efeitos secundários que não queremos ter num analgésico para dor crónica, e é por isso que estamos tão entusiasmados com os resultados que temos", adianta Pedro Lima.
Todos os testes pré-clínicos, antes de avançar para a aplicação em humanos, já foram realizados em colaboração com o laboratório da Nova Medical School. Incluíram estudos de segurança, farmacologia e toxicologia, que demonstraram um "perfil de segurança excecional e superior eficácia" quando comparado com terapêuticas padrão.
Em dezembro, a Sea4Us vai fazer o pedido para os ensaios clínicos - que serão realizados no estrangeiro - à Autoridade Europeia do Medicamento e espera que em abril de 2026 já seja possível fazer os primeiros testes e administrar o fármaco a voluntários saudáveis. Depois virão outras fases, nomeadamente, passar o processo para as mãos de uma farmacêutica, com maior capacidade financeira. São etapas que poderão demorar ainda seis anos até que o medicamento chegue ao mercado.
Pedro Lima considera que o mar é uma fonte inesgotável para descobrir e desenvolver medicamentos que fazem a diferença. A Sea4US está a desenvolver outros projetos, nomeadamente um que se foca na neuropatia induzida pela quimioterapia, outro na osteoartrite e um terceiro focado no tratamento da epilepsia.
