Mesquita Nunes e Gonçalves Pereira falam em "saneamentos" no CDS. Líder considera crítica ofensiva

Francisco Rodrigues dos Santos
LUSA
Adolfo Mesquita Nunes considera "preocupante notícias que dão conta de purgas de nomes do CDS em Lisboa" e recusou "saneamentos por pura 'vendetta' interna". Já Francisco Rodrigues dos Santos afirma que as críticas de saneamento são "ofensivas" e os "discursos fantasiosos".
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O antigo vice-presidente do CDS-PP Adolfo Mesquita Nunes e o líder da distrital de Lisboa recusaram "saneamentos" na escolha dos candidatos autárquicos, enquanto o líder do partido considerou a crítica ofensiva e rejeitou "discursos fantasiosos".
O Conselho Nacional do CDS-PP - órgão máximo entre congressos - esteve reunido por videoconferência e à porta fechada durante mais de nove horas a discutir e votar os regulamentos autárquicos e as moções setoriais que foram apresentadas ao último congresso do CDS-PP, em janeiro do ano passado.
Mas um dos assuntos mais falados, segundo contaram à Lusa fontes presentes na reunião, foi a possibilidade avançada pelo jornal 'online' Observador de a direção não indicar o líder da distrital e atual vereador na Câmara de Lisboa, João Gonçalves Pereira, para a coligação PSD/CDS à capital, mesmo depois de o seu nome ter sido aprovado pela concelhia, juntamente com Diogo Moura e Nuno Rocha Correia.
De acordo com conselheiros ouvidos pela Lusa, o antigo vice-presidente do CDS Adolfo Mesquita Nunes considerou "preocupante notícias que dão conta de purgas de nomes do CDS em Lisboa" e recusou "saneamentos por pura 'vendetta' interna", defendendo que "são impróprios de partidos democráticos" e são para si "uma linha vermelha".
Se a direção rejeitar nomes propostos pelas concelhias ou pelas distritais, o CDS passará a ser "um pequeno clube de fanatismos", criticou.
Segundo relatos feitos à Lusa, Adolfo Mesquita Nunes, que em janeiro disse que seria candidato à liderança caso fosse convocado um congresso eletivo antecipado, assinalou que não recolheu as assinaturas para esse efeito e mostrou-se empenhado nas autárquicas, indicando que, da sua parte, "não há oposição, há colaboração".
João Gonçalves Pereira, que é vereador do CDS na Câmara de Lisboa há oito anos e líder da distrital, reiterou a disponibilidade de participar no combate autárquico e não aceita "que alguém possa colocar lei da rolha no CDS".
Gonçalves Pereira considerou que, a ser verdade, o que não quer acreditar, estão em causa "purgas, saneamentos" por parte da direção e apontou que essas são "práticas próprias de partidos comunistas".
Na quinta-feira, João Gonçalves Pereira, crítico da atual direção, anunciou que no final de março vai deixar o lugar de deputado no parlamento para se dedicar "de corpo e alma ao combate local".
De acordo com conselheiros ouvidos pela Lusa, o antigo líder parlamentar centrista Nuno Magalhães referiu-se à situação como o "elefante na sala", enquanto o atual presidente do grupo parlamentar, Telmo Correia, considerou que "não faz sentido" o afastamento de João Gonçalves Pereira e defendeu que as autárquicas são "o momento das concelhias".
Também o deputado João Almeida salientou que "nunca houve quotas nacionais em eleições autárquicas".
O líder da concelhia de Lisboa, Diogo Moura, destacou que "os protagonistas do CDS em Lisboa são reconhecidos", pelo que espera que o processo possa avançar "sem excluir ninguém".
Em resposta, o presidente do CDS-PP recusou "discutir lugares" antes de discutir os programas eleitorais e indicou que vai usar todos os poderes atribuídos pelo regulamento autárquico.
De acordo com as fontes ouvidas pela Lusa, Francisco Rodrigues dos Santos defendeu a renovação das listas e frisou que, "no CDS, não há lugares cativos".
O líder centrista criticou Mesquita Nunes por, em declarações ao Expresso antes do Conselho Nacional, ter tentado "impor metas" para o partido nas eleições autárquicas e disse que não foi eleito "pela condescendência de ninguém".
Rodrigues dos Santos destacou também que "o brilhante" João Gonçalves Pereira não se mostrou disponível para ser cabeça de lista se o CDS apresentasse listas próprias na capital e pediu que as discussões internas não sejam levadas para a comunicação social.
Considerando que as críticas de saneamento são "ofensivas" e "discursos fantasiosos", garantiu que "ninguém vai sanear" mas sim "integrar".
Ao longo das intervenções, vários membros da direção foram defendendo o direito a ter a última palavra a dizer na escolha dos nomes em Lisboa, entre os quais o vice-presidente Miguel Barbosa, que advogou que a política "não pode ser uma profissão" e que "renovar não é sanear".
De acordo com fontes ouvidas pela Lusa, o dirigente considerou que ainda não é momento de "bailar a dança dos lugares" e recusou que "notícias ou pressões, venham de quem vierem", possam antecipar essa discussão.
O presidente da mesa do Conselho Nacional, Filipe Anacoreta Correia, que está envolvido nas conversações com o PSD em Lisboa, considerou que "a montanha pariu um rato" e pediu aos centristas que não estejam "nervosos" quanto aos lugares nas candidaturas autárquicas.