Mexilhões ou um peixe que come aves: há 126 espécies invasoras em águas ibéricas
Um estudo da Life Invasaqua identificou as espécies que merecem estar na "lista negra" ou de "alta preocupação"e as que, ainda não estando nesse nível, provocam alerta.
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São 126 as espécies invasoras das águas da Península Ibérica que ameaçam os ecossistemas, a economia e saúde da população. A conclusão é de um estudo do projeto Life Invasaqua, que identificou espécies como o mexilhão-zebra ou o siluro, mas também alguns velhos conhecidos.
Exemplo disso mesmo é o jacinto-de-água, que já é um problema em Portugal há vários anos, mas só agora começou a aparecer em Espanha, explica Pedro Anastácio, investigador da Universidade de Évora e integrante do grupo de coordenação deste estudo, na TSF.
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Já um exemplo contrário é o do mexilhão-zebra, que começou por ser identificado em território espanhol e foi depois detetado na bacia do rio Sado em 2019. Esta espécie pequena "agarra-se a tudo o que são estruturas sólidas", acabando por entupir canos e impedir que estruturas como "comportas ou sistemas mecânicos funcionem devidamente".
Este comportamento leva a que seja necessário gastar muito "dinheiro para substituir os sistemas que são afetados ou fazer a limpeza enquanto ainda é possível".
No Tejo a ameaça é outra, bastante maior, e apesar de ser um peixe "consegue apanhar aves aquáticas ou pombos que vão beber água, há filmes dele a fazer isto": chama-se siluro.
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"Chega a ter 2,40 metros e mais de 120 quilos de peso" e é um peixe predador "com impactos fortíssimos sobre a biodiversidade" dos locais que passa a habitar.
Pedro Anastácio admite que "há muitos, são muito abundantes" e, embora apreciado pelos pescadores desportivos "como um troféu", tal não apaga "os efeitos muitíssimo negativos" que tem sobre os locais por onde passa: "Às vezes conseguem colocar-se em zonas de passagem de peixes migradores e comem todos os que por ali passam."
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Para lá do efeito sobre outros animais, há também espécies perigosas para o ser humano, como é o caso de mosquitos transmissores de doenças, como o Aedes aegypti, já identificado na Madeira, que pode "aparecer na Península Ibérica a qualquer momento" e que pode transportar dengue.
Outra das espécies identificadas e colocadas na lista de alerta - com 88 espécies - é o lagostim marmoreado, "uma espécie muito curiosa" e que já foi encontrada no Norte de Espanha. E o que a distingue? "Não necessita de um macho e de uma fêmea para se reproduzir. Basta termos um indivíduo e esse indivíduo reproduz-se sozinho, produzindo novos. É o que chamamos de reprodução partenogenética."
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Além destes, na lista negra incluem-se também o feto-de-água, o caranguejo-vermelho-americano ou o verme-australiano, mas também a carpa ou a gambúsia, notoriamente difíceis de gerir.
Sempre que produz "material de interesse para decisores políticos", o projeto Life Invasaqua envia-os a instituições como o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), mas nota lacunas nas regulamentações.
Apenas "aproximadamente metade" das espécies fazem parte da legislação quer portuguesa, quer espanhola, algo que o Pedro Anastácio espera que possa mudar em breve.
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O documento que nasceu desta investigação de cerca de meia centena de investigadores espanhóis e portugueses pode agora ajudar a rever a legislação nacional "e até mesmo a europeia".