A 9 de abril assinalam-se 100 anos da Batalha de La Lys. Ficou na história como o maior acontecimento da participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial.
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Na batalha, na Flandres, perderam a vida cerca de 400 portugueses, muitos ficaram feridos e mutilados e ainda um número maior de combatentes foi feito prisioneiro.
No meio do caos, nasceu um herói: Aníbal Augusto Milhais, o soldado raso de Murça, que conseguiu, sozinho nas trincheiras da frente de combate, atrasar a ofensiva alemã e, assim, salvar muitos homens portugueses e das forças aliadas
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Os primeiros soldados portugueses chegaram a solo francês em fevereiro de 1917. "Era um exército sem preparação", salienta a historiadora Alexandra Anjos, do Museu Militar do Porto.
"Na frente da guerra faltava tudo aos soldados nacionais". A historiadora acrescenta que "estavam colocados em trincheiras de lama e estiveram sem ser rendidos meses seguidos. Estavam exaustos. Estavam numa situação de impasse, num território que não era deles".
É neste contexto que, na madrugada de 9 de abril de 1918, se dá a batalha de La Lys. Os alemães investiram com toda artilharia pesada e o setor das tropas portuguesas ficou completamente dizimado, salienta Dinis Costa, Tenente-Coronel do exército. "Foi terrível. Por cada três oficiais, um desapareceu. Nas praças e sargentos, um em cada seis. Muitos foram feitos prisioneiros. As nossas forças estavam muito debilitadas".
É aí que aparece Aníbal Augusto Milhais. À ordem de retirada, fica sozinho nas trincheiras e, com a sua metralhadora Lewis, consegue segurar as tropas alemãs. Meses depois, recebe a mais alta condecoração militar.
"O meu avô - julgo que ainda hoje, passados quase 100 anos - é o único soldado ao qual foi atribuída a ordem de Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito", ressalva Eduardo Milhões, neto do soldado de Murça que, na noite da condecoração, viu o comandante mudar-lhe o nome, como contou o próprio, numa gravação feita pela filha mais nova há 50 anos.
"Nessa noite o meu comandante Ferreira do Amaral perguntou-me o nome e eu disse-lhe que me chamava Aníbal Augusto Milhais e ele disse-me: És Milhais mas vales Milhões!"
O herói Milhões faleceu aos 75 anos. Está sepultado no cemitério da sua aldeia, Valongo, que, por sua causa, se passou a chamar Valongo de Milhais.