Cinco governantes opuseram-se ontem, durante o Conselho de Ministros, a algumas das propostas do ministro das Finanças. O PS diz que «parece que no Governo não há coordenação política».
Corpo do artigo
A informação é avançada pelo jornal I e pelo semanário Expresso que adiantam que o ministro dos Negócios Estrangeiros chegou mesmo a ameaçar romper com a coligação.
Para além de Paulo Portas, também Paula Teixeira da Cruz, Miguel Macedo, Aguiar Branco e Álvaro Santos Pereira terão contestado as medidas que Vitor Gaspar apresentou.
O Expresso cita um dos presentes na reunião que afirma «Isto está por um fio» e o jornal I, que cita fontes governamentais, adianta que as medidas que terão merecido a oposição de vários ministros.
Diz o I que o ministro das Finanças propôs uma redução do número de funcionários públicos e um corte no salário dos que não seriam dispensados. Além disso, defendeu um corte nas pensões. Medidas a incluir no pacote que o Governo vai apresentar depois de nova reunião na próxima terça-feira.
A falta de consenso durante o Conselho de Ministros (que se prolongou para além da 13h00, depois do "briefing", e só terminou por volta das 21h30, terá estado na origem do adiamento, para essa altura, do Documento de Estratégia Orçamental que tem de ficar concluido até ao fim do mês.
Este sábado, o secretário nacional do PS para a organização, Miguel Laranjeiro, afirmou que começam a existir sinais de descoordenação no interior do Governo, frisando que é o primeiro-ministro o primeiro responsável pela coordenação política.
Miguel Laranjeiro falava aos jornalistas à entrada para o segundo dia de trabalhos do XIX Congresso Nacional do PS. Interrogado pelos jornalistas sobre alegadas divergências existentes no interior do Governo a propósito da elaboração do Documento de Estratégia Orçamental, o secretário nacional do PS para a organização afirmou desconhecê-las, mas deixou uma observação: «É uma situação que, a existir, preocupa o Governo».
«O primeiro-ministro é o primeiro responsável pela coordenação política do Governo. Parece que no Governo não há coordenação política», afirmou.
Questionado se os socialistas recusam em definitivo qualquer possibilidade de consenso com o Governo PSD/CDS, o dirigente socialista disse que o PS recusa o tipo de «consenso que foi posto em cima da mesa» pelo executivo, «porque é desde logo um falso consenso».
«Os consensos não se anunciam, constroem-se. O Governo está a meio do seu mandato, já passaram quase dois anos e só agora é que se lembrou do PS, só agora descobriu que há outras visões e outros caminhos para Portugal», acrescentou.
Já o deputado socialista Pedro Silva Pereira, convidado este sábado do programa Bloco Central, diz que a razâo de fundo das divergências está na austeriade e no impacto dessa politica.
«A razão fundamental para esta divisão é uma divergência quanto á avaliação dos resultados da política de austeridade. O ministro das Finanças tem uma confiança cega na ideia da austeridade expansionista e ela é tão cega que ele se recusa a ver os resultados», afirmou.