Responsáveis das misericórdias exigem apoio médico e de enfermagem ao Serviço Nacional de Saúde, que dizem ter implementado um sistema que coloca "a raposa dentro do galinheiro", "abandonando" os idosos nos braços dos lares.
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A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) quer que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) garanta cuidados médicos e de enfermagem aos idosos diagnosticados com Covid-19 e que continuam nos lares.
As misericórdias dizem que a situação é insustentável e que não faz sentido não existirem unidades de retaguarda que acolham os idosos com a doença nem, em alternativa, cuidados médicos e de enfermagem assegurados pelo SNS, que evitem complicações ou deem "conforto" nos casos em que o idoso, pela sua situação clínica muito complicada, já não ganha nada em ser submetido a tratamentos desconfortáveis numa Unidade de Cuidados Intensivos que não lhe vai dar mais qualidade de vida.
O vice-presidente da UMP, Manuel Caldas de Almeida, explica que nestes casos de fim de linha, de pessoas já muito debilitadas, o essencial é que a pessoa tenha conforto, sem dores, nos últimos tempos de vida, algo que não está garantido nos lares sem o apoio médico e de enfermagem do serviço público de saúde.
Este apoio médico e de enfermagem está agora previsto numa nova norma da Direção-Geral da Saúde (DGS), mas até agora, segundo a UMP, nunca aconteceu e esta não sabe se irá acontecer.
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O representante das misericórdias, que também é médico e investigador na Universidade Nova na área da Geriatria, admite que, na situação atual, concorda com a DGS quando esta diz que só uma minoria de pessoas precisa de ser internada. Contudo, no caso dos idosos dos lares, que, por norma, têm pessoas muito frágeis, a descompensação acontece de forma muito rápida - por exemplo, em duas horas -, o que exige uma vigilância clínica próxima de profissionais de saúde.
A UMP sublinha que sempre defendeu outro modelo, com uma espécie de unidades de apoio à margem dos lares que recebessem os idosos com Covid-19, mas este modelo não foi aceite pelas autoridades de saúde.
Saúde abandona lares com idosos infetados
Na atual situação, em que colocamos um idoso com Covid-19 dentro de um lar, onde outros idosos também estão muito frágeis, "estamos a por a raposa dentro do galinheiro ou a Covid dentro do lar", lamenta Manuel Caldas de Almeida, explicando que, na maioria destas instituições, é impossível ter espaços separados para doentes positivos e negativos ao novo coronavírus.
A UMP acusa os serviços de saúde de, na prática, "abandonarem" os lares à sua sorte, sem apoio médico ou de enfermagem.
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