A TSF segue os trilhos dos Mochileiros Carolina Calçada e Pedro Cerqueira, numa viagem de seis meses numa autocaravana pela Europa. A segunda semana foi passada a conhecer a terra onde nasceu o filme "Chocolate", a provar uma omelete famosa e a desfrutar dos castelos e montanhas da Normandia.
Corpo do artigo
"Deixámos Espanha para trás, e a primeira paragem em terras francesas foi Biarritz. Uma cidade grande, com muita agitação, que se percebe nitidamente que vive da proximidade com o mar. A linha de praia é povoada por imensos cafés, restaurantes, escolas de surf... Estacionámos a Pingu (a nossa autocaravana) num ponto Park4night, e fomos ver o pôr-do-sol. O cenário era brutal! A praia cheia de surfistas, o estacionamento com imensas carrinhas com malta a beber umas cervejas e a apreciar a vista combinavam perfeitamente com o nosso estado de espírito.
Ali encontrámos um bom local para dormir, bastante tranquilo e com wc público grátis. Pudemos andar de skate, bicicleta, fazer umas caminhadas... Deu para matar algumas saudades do verão!
Seguimos caminho para uma zona ainda pouco conhecida de França, Dordonha, mas que dizem ser das mais encantadoras: "Les plus beaux villages de France". Aqui estão situadas as mais bonitas vilas de França, e é o Rio Dordonha que dá o nome à região. Fica no sudoeste francês, e é chamada a "Terra dos 1001 castelos". É também terra que concentra as mais incríveis vistas: desde grutas com desenhos pré-históricos, pinturas rupestres, castelos, passeios de barco, de balão de ar quente, etc.
No caminho da costa para o interior, conseguimos perceber nitidamente a entrada no Vale do Dordonha, com paisagens repletas de vinhas, campos de girassóis, montanhas que escondem grutas. E os castelos? Para qualquer lado que nos virássemos víamos um castelo. Cada um mais imponente que o outro. A sensação que se tem neste caminho é que estamos num conto de fadas, também pela altura do ano, pois em abril, todos os campos ficam cobertos de cor e torna tudo mais bonito.
A primeira vila, Belvés, pequena, simpática, com casas lindíssimas, é uma vila medieval cercada por muralhas, das quais ainda se vê vestígios. Conhecida como a "Cidade das Sete Torres de Sino", tem como um dos edifícios principais "La Tour du Guet", a torre do relógio que está fora da cidade. A vila possui também um campanário medieval e um castelo. O mercado coberto tem uma estrutura muito bonita. Estava fechado, pelo que nos sentámos a tomar um café numa esplanada próxima. Contudo, sabemos que funciona aos sábados de manhã e durante Julho e Agosto, às quartas-feiras à noite.
Seguimos para Milandes, onde a principal atração é "Le Château et jardins des Milandes", uma casa senhorial, cuja entrada custa 12 euros. O local envolvente é muito charmoso, com jardins muito bem cuidados, mas é no interior da casa que nos apercebemos realmente de que este é um lugar lindo pelo que representa. A casa passou por muitas mãos, ultrapassou guerras e revoluções, mas foi a sua famosa habitante Josephine Baker que lhe deu fama. Foi muito interessante perceber a história de vida desta mulher, que teve de fugir dos Estados Unidos para, como mulher negra, poder ter liberdade e ser atriz.
Em Milandes, encontrámos um dos poucos parques de estacionamento grátis de Dordonha, por isso aproveitámos para desfrutar da paisagem e descansar um pouco. Contudo, não era permitido pernoitar lá, pelo que tivemos que nos pôr ao caminho. Castelnaud-Fayrac foi apenas uma passagem, mas ficámos completamente apaixonados pelo seu castelo e envolvência. Ainda tivemos a sorte de ver o espectáculo de duas lontras no rio. Beynac-et-Cazenac, uma vila medieval localizada numa encosta nas margens do Rio Dordonha, tem um encantador castelo como uma cereja no topo do bolo. À medida que nos íamos aproximando da vila, a vista para esta colina era deslumbrante. Uma curiosidade: o filme "Chocolate" foi filmado aqui.
A subida para o Castelo de Beynac é muito íngreme, mas vale imenso a pena. Ruelas estreitas, casas muito bonitas, miradouros com vistas para o Vale do Dordonha, e, ao fundo, os castelos das vilas vizinhas.
Na descida, tivemos uma surpresa, pois, enquanto apreciávamos a vista, começámos a ver balões de ar quente. Aquele entardecer, com o céu amarelado, o sol a pôr-se, e aqueles balões, deixaram-nos deliciados. Foi, sem dúvida, das nossas vilas preferidas de Dordonha. O único inconveniente desta pequena vila é que não existem parques de estacionamento gratuitos e o preço mínimo é de três euros por duas horas e meia. A entrada para o castelo custa oito euros.
La Roque Gageac, é uma bonita vila na margem do Rio Dordonha. Quem por lá passa tem a perceção que as casas estão escavadas na falésia. Tem uma avenida muito bonita junto à água, com restaurantes e lojas com produtos da zona. Os passeios de barco são uma atração muito procurada aqui. Roque Saint-Christophe é uma grande formação rochosa com abrigos, no rio Vézère, perto de Peyzac-le-Moustier, na Dordonha.
O caminho que fizemos na Pingu junto a esta enorme rocha, é maravilhoso, com quedas de água, animais a pastar, e, olhando para cima, vemos imensas grutas escavadas na pedra. Trata-se das ruínas de um povoamento dentro da rocha, que teve início na pré-história, estendendo-se até ao final da Idade Média. O custo da entrada é de oito euros. Foi um passeio maravilhoso por este vale encantado e por estas vilas charmosas. Dordonha surpreendeu-nos. A cada curva víamos paisagens de tirar o fôlego e cada uma das suas vilas tinha um encanto particular. É, sem dúvida, um passeio que aconselhamos a todos que gostam de descansar, caminhar, longe da folia, e procurando apenas tranquilidade.
Voltámos então para a costa francesa. Desta vez, o destino foi Saint Malo, uma cidade portuária na Bretanha, noroeste de França. A cidade velha é envolta numa alta muralha, para onde se pode subir e caminhar ao seu redor, alcançando uma vista absolutamente magnífica. A água do mar é azul-turquesa, o que faz daquela caminhada à volta do muralhado centro histórico uma caminhada absolutamente deliciosa. A outra atração é a Catedral de Saint Malo, no centro da cidade velha, com vitrais que retratam a história da cidade.
Continuámos pela costa, e, apesar de a música nos dizer que não devemos voltar ao lugar onde fomos felizes, não retornar ao Monte de Saint Michel foi inevitável! Somos completamente apaixonados por este "castelo" no meio da água, que faz parte do Património Mundial da UNESCO. Este monte é uma ilha rochosa, na foz do Rio Couesnon, com a abadia do monte de Saint Michel no topo. Este é o ponto turístico mais frequentado da Normandia e um dos mais concorridos de toda a França, ficando a menos de quatro horas de Paris.
Na primeira vez que lá fomos, no ano passado, fizemos o que todos fazem: Fomos de autocaravana até ao parque de estacionamento (parque pago!) e apanhámos um comboio grátis que nos levava até ao monte. Subimos tudo aquilo até à Abadia, por caminhos bastante ingremes, ruas lindíssimas com casas, restaurantes e lojas de venda de souvenirs. Aconselhamos calçado confortável pois vão enfrentar umas centenas de degraus.
Na volta, estávamos muito cansados e com fome. Decidimos então provar a famosa "Omelette de la mére Poulard". Não ficámos fãs, já que é uma omolete absolutamente normal, exceto o tamanho gigante e o preço: 20 euros. Desta vez, quisemos ter outra perspetiva do monte e decidimos abrir o Google Maps e procurar uma estrada que passasse lá perto, mas longe da euforia dos turistas. E não é que encontrámos? Seguimos um trilho de campos agrícolas, e chegámos a um lugar onde arriscámos dizer que tem a melhor vista para o incrível monte.
Há uma particularidade que temos de ter em conta quando visitamos o monte. Por vezes, ele fica inacessível e completamente cercado por água. Infelizmente, nunca tivemos a sorte de o ver rodeado de água, porque apanhámos sempre maré baixa. No entanto, adoraríamos ver este lugar com água, pois o reflexo duplicado na água daria uma imagem incrível. Por isso, é muito importante verificar (online) os horários da maré. Se a maré subir além dos 12 metros, ninguém consegue entrar ou sair do monte durante algumas horas. Estas marés vivas acontecem entre 36 e 48 horas após a lua cheia. Na Normandia, esta é uma paragem obrigatória, e podem também deliciar-se com todo o caminho até ao Monte, entre campos de um amarelo luminoso, paisagens lindíssimas, onde o monte se destaca lá ao fundo, imponente e solitário.
Sejam felizes,
Mochileiros"
LER MAIS:
- Os Mochileiros na estrada. Astúrias e uma praia "com o mar nas nossas costas"