Montenegro apresenta moção ao ataque: "PSD não está condenado ao definhamento"
Está escrito: vencer Lisboa nas autárquicas, começar a preparar já as próximas legislativas para as vencer com maioria absoluta e oposição firme ao Partido Socialista. Também o apoio a Marcelo não fica de fora da moção de estratégia global com que Montenegro vai a eleições. Da direção de Rio, promete manter o Conselho Estratégico Nacional.
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A mira está apontada a dois alvos: o Partido Socialista e Rui Rio. Se o PS merece várias referências na moção de estratégia global de Luís Montenegro, Rui Rio nem por isso. No entanto, as críticas estão todas lá.
No documento que apresenta esta segunda-feira aos militantes e cuja síntese a TSF teve acesso, Montenegro dispara em direção a Rio com críticas que vão da "liderança unipessoal e autoritária" no PSD à "unicidade de pensamento". Pelo caminho, há uma rejeição liminar à "tentativa sub-reptícia de quem tenta desvalorizar e normalizar as recentes derrotas copiosas" e ainda críticas à falta de humildade e disponibilidade "para apoiar as estruturas" e "de coragem para defender intransigentemente a militância partidária".
Dividindo-se em seis eixos estratégicos ("A Nossa Terra", "A Nossa Comunidade", "O Nosso Estado", "A Nossa Economia", "O Nosso Futuro" e "O Nosso PSD"), a moção de Montenegro está assente naquele a que chama "O Nosso Propósito". E esse é claro: "exercer o papel de oposição firme e exigente".
"O Partido Socialista, como tem reconhecidamente reiterado, escolheu voluntariamente os partidos da esquerda para governar. Foi a sua opção ideológica, numa deriva radical inédita mas convicta, que só pode merecer o nosso respeito democrático", pode ler-se na moção situando o PSD como "a única verdadeira alternativa política".
A ideia é desenvolvida mais à frente quando Montenegro explica qual a ideologia que quer no seu PSD. "Portugal precisa desta alternativa à ideologia estatizante e ao dirigismo da governação socialista, bloquista e comunista que nos tem conduzido à estagnação e se caracteriza pela falta de ambição", lê-se no documento onde é apontado um "poder esquerdista que visa oprimir a sociedade pelos agentes do Estado, normalmente capturados pelo mero projeto partidário de dependências e de rendas garantidas".
Situando o PSD como alternativa que "valoriza a liberdade e a autonomia da sociedade civil e protege o Estado da captura por interesses particulares ou partidários e a sociedade de interesses políticos e partidários", a moção de estratégia fala num PS que se "confunde cada vez mais com os seus parceiros da esquerda radical" e ainda num "pesadelo socialista que nos tem (des)governado".
Começar já a preparar as legislativas
Ainda agora começou a legislatura, mas Montenegro já pensa na hipótese de vir a ser primeiro-ministro como Cavaco Silva foi: com maioria absoluta. A fasquia já tinha sido colocada e, na moção que é agora conhecida, o candidato a presidente social-democrata escreve que "o PSD não é um partido com vocação para governar apenas em tempo de emergência" e que, "como projeto de transformação, de reformismo, de inconformismo e de inovação que são", é necessário "convencer os portugueses a conferir ao partido a maioria parlamentar que permita executar esse projeto, como aconteceu, por exemplo de 1985 a 1995".
E para que não restem dúvidas da importância do objetivo, Montenegro é claro: "o PSD iniciará de imediato a preparação das próximas eleições legislativas que decorrerão até 2023".
Mas antes das legislativas há outras batalhas eleitorais e, logo na primeira, não é traçada nenhuma fasquia. Ciente da dificuldade de reconquistar a região autónoma dos Açores que é socialista desde 1996, Montenegro deixa claro que apoiará os "companheiros açorianos nas próximas eleições regionais de 2020", sem quaisquer metas traçadas.
Cenário diferente é o das autárquicas, momento que todos os candidatos à liderança do PSD reconhecem como vital. Se Montenegro já o disse logo na apresentação da candidatura com todas as letras ("quero um partido ganhar as próximas eleições autárquicas"), agora é um pouco mais contido. Mas apenas um pouco porque não inscreve esse objetivo de forma tão clara na moção, fala em "reconquistar votos" e "jogar para ganhar". Uma coisa é certa: Lisboa é ponto assente. Como disse na apresentação da candidatura, agora reitera que em Lisboa será apresentada uma candidatura "forte e vencedora".
"Alguns dirão que a fasquia é alta. Mas se partirmos derrotados, garantidamente, não venceremos. O PSD já conseguiu feitos notáveis em eleições anteriores. As Autárquicas de 2021 serão mais um desses momentos em que iniciaremos um processo de inversão das derrotas passadas", escreve Montenegro garantindo que será ele próprio a coordenador a preparação das eleições autárquicas.
O elogio e apoio a Marcelo
Na moção apresentada esta segunda-feira, o Presidente da República também não fica esquecido. "O PSD incentiva e não se eximirá de manifestar o seu convicto e incondicional apoio a uma eventual recandidatura do atual Presidente da República, Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa", pode ler-se no documento a que a TSF teve acesso.
E além do apoio, um rol de elogios a Marcelo. Além de "Homem Livre", a moção de Luís Montenegro sublinha "o sentido de Estado, o espírito de missão, a atitude congregadora e solidária, a visão estratégica, a opção equilibradora, a ação exemplarmente independente e a proximidade ativa e afetiva" de Marcelo Rebelo de Sousa que são "motivo de orgulho e esperança para o futuro do PSD".
Conselho Estratégico Nacional é para manter
Sobre o partido propriamente dito, Luís Montenegro nota que o PSD precisa de se reformar a si próprio de modo a conseguir reformar o país. Por isso mesmo, com críticas implícitas a Rui Rio nesta parte da moção, o candidato natural de Espinho assume o "compromisso de uma liderança que quer unir o Partido, acarinhar a militância, reforçar a autoestima partidária, galvanizar as melhores ideias, mobilizar os melhores quadros e defender uma causa comum, um projeto reformista para Portugal".
Prometendo destaque aos autarcas sociais-democratas ("maiores baluartes da implantação social e territorial do partido"), Montenegro não aborda a questão das quotas dos militantes que tanto deu que falar nesta campanha interna, mas nota que "o exercício da militância deve ser promovido e simplificado, sem entraves artificiais e burocráticos".
Para o futuro, fica a vontade de criar uma Academia Política que "possa desenvolver mais e melhor formação política para os representantes, dirigentes e militantes" e também a manutenção do Conselho Estratégico Nacional implementado pela atual direção do partido. Elegendo-o como "fórum privilegiado", Montenegro mantém a aposta de Rui Rio promovendo ajustes ao funcionamento para que o trabalho produzido possa ser "mais consequente".
E tudo isto com uma máxima: a de que o PSD "não está condenado ao definhamento".