Montijo defende que "ou se legaliza" a apanha no Tejo ou problemas vão continuar
Autarca assinala que "felizmente a situação não se torna incontrolável porque as autoridades policiais atuam", mas o problema pode agravar-se.
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Depois de uma megaoperação da Polícia Marítima contra a apanha ilegal de bivalves no rio Tejo e tráfico de seres humanos que levou a quatro detenções e à identificação de mais de 240 imigrantes, o presidente da câmara do Montijo, Nuno Canta, defende na TSF que a solução para o problema pode passar pela legalização da atividade.
Decorreu, desde as 8h00, uma megaoperação de combate ao tráfico de seres humanos liderada pela Polícia Marítima, nos concelhos do Montijo e de Alcochete, designadamente na localidade do Samouco, onde diariamente centenas de mariscadores, muitos deles imigrantes de origem asiática, se dedicam à apanha ilegal de amêijoa. Durante a manhã, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras notificou nove destes imigrantes identificados para esclarecerem "a sua situação em território nacional".
Em declarações à TSF, o autarca de Alcochete elogia a iniciativa das câmaras municipais da frente ribeirinha do Sul do Tejo, que têm "solicitado várias vezes aos deputados e aos governos que foram passando, que tomem atenção a este problema da apanha ilegal", mas pede que se reforce a reflexão sobre como resolver "no futuro" o problema no Tejo.
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Para Nuno Canta, "ou se legaliza" e as empresas "pagam os seus impostos e trabalham de acordo com a legalidade normal das coisas", ou "continua a haver este tipo de situações". O autarca assinala que "felizmente não se torna incontrolável porque as autoridades policiais atuam", mas a situação "pode tornar-se sempre um problema para todos nós".
Uma fonte envolvida na operação que decorreu esta manhã adiantou ao jornal Expresso que, quando entraram "nos barracos" em que os imigrantes de origem asiática viviam, os agentes da Polícia Marítima não estavam preparados para o que encontraram: seriam perto de trezentos homens "em condições absolutamente deploráveis, nojentas mesmo". Foi difícil "entrar ou ainda menos permanecer" no local "por causa do cheiro", estava "tudo no chão" e o número de fatos de mergulho encontrados, disse a mesma fonte ao jornal, faz crer que haverá ainda mais vítimas.
Sem ter ido ao local, o autarca explica à TSF que as condições seriam "de camarata" e nunca "idênticas às de uma habitação normal", pelo que eram "inadequadas" para uma vida feita de forma "permanente".
O edifício em questão, que Nuno Canta conhece por ali passar "de vez em quando", tem um muro "alto" e "não aparentava esse tipo de utilização".
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"É o meu sentimento pessoal, mas, na verdade, era pouco observável por quem ali passava", garante o autarca, que reconhece alguma surpresa "com o número de pessoas ali, que preenchiam aqueles espaços". Questionado sobre quantas seriam as que ali viveriam, aponta para "80 e poucas".
A câmara está a estudar a possibilidade de usar um "pavilhão desportivo que por acaso fica no quartel dos bombeiros voluntários" do concelho, com apoio da Proteção Civil.
A autarquia tenta também ajudar a montar um centro de triagem, mas "a solução a dar a estes cidadãos, que não são cidadãos do Montijo, vieram para cá, são imigrantes, é evidentemente através de autoridades nacionais", ressalva. O Montijo apoia a megaoperação com meios dos "serviços de ação social, equipas sociais" e também a equipa de Proteção Civil municipal.
À espera do que possa "desenrolar-se com o tempo", Nuno Canta diz esperar que a situação seja "imediatamente regularizada" e lamenta o sucedido "do ponto de vista destas redes ilegais de tráfico de pessoas, contra os direitos humanos em que acreditamos". O autarca deixa também um elogio ao trabalho feito com "grande eficácia" pelas autoridades.