No concelho de Albufeira, empresas de turismo fazem corridas de moto 4 e buggies, destruindo caminhos e perturbando as aldeias.
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Fazem barulho, levantam pó, destroem caminhos e a natureza em redor e, sobretudo, incomodam os habitantes que moram naquela zona do barrocal algarvio. A freguesia de Paderne é particularmente afetada. "Passam aí três a quatro vezes ao dia, são aos 10 e aos 15", afirma Pedro Buisel.
Pedro mora no sítio de Almeijoafre. Diariamente, e sobretudo na época alta, assiste à passagem a grande velocidade de buggies e de moto 4 de várias empresas turísticas. "Além do pó que levantam, dos valados que destroem, e das zonas que são protegidas, passam por aldeias a 30 centímetros das casas", afirma indignado. Os turistas que gostavam de fazer percursos a pé pela natureza ou observar aves já não vão para aquelas bandas.
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Francisco Sopa, que vive no Cerro do Leitão, queixa-se de que nem o caminho para um edifício de interesse público, o Castelo de Paderne, escapa. "Passam para o Castelo, que é sítio de Natura 2000 e as árvores estão cheias de pó branco que eles geram. E não se lhes pode dizer nada!", assegura. A má educação de quem conduz essas viaturas é outra das queixas dos moradores. "Vão de cara tapada, por causa do pó, nem os conseguimos identificar. Vão como se fossem para um safari", explica Pedro.
Os habitantes desta freguesia, que é a mais rural do concelho de Albufeira, já pediram ajuda à câmara municipal, escreveram ao turismo e a uma associação ambientalista, mas até agora ninguém resolveu nada. Pedem que, pelo menos, seja demarcado um traçado por onde possam passar essas viaturas, de modo a incomodar o menos possível os moradores e não dar cabo do ambiente. Turismo sim, consideram os habitantes da zona barrocal algarvio, mas em seu nome não vale tudo.
"Temos cerca de 60% dos caminhos que são rurais", explica Francisco. "Já apresentei o problema ao presidente da câmara de Albufeira. Eu não quero que os homens não ganhem dinheiro, deem-lhes é um percurso", exclama este morador.
Presidente da junta de freguesia pede intervenção urgente e câmara municipal garante que está a avaliar a situação
"Eu passo diariamente pelos caminhos onde eles circulam e, meu Deus, só visto", lamenta o presidente da junta de freguesia de Paderne. João Cabrita Guerreiro conta que as viaturas passam em grande velocidade à porta das pessoas que lhes pedem para passar mais devagar. "Eles não ligam e, por vezes, até respondem mal", assegura.
O autarca é frequentemente obrigado a arranjar os caminhos de terra batida. "Ficam com muitos buracos e nós, com a nossa retroescavadora, tentamos minimizar e pôr aquilo direitinho" para não causar constrangimentos às inúmeras pessoas que moram naqueles locais. "Temos aqui uma preocupação enorme e queríamos ajuda", pede.
Contactado pela TSF, o presidente da câmara de Albufeira garante conhecer o caso e estar a tentar "manter uma situação de equilíbrio entre as empresas que têm esta atividade e os moradores". Questionado sobre se a solução passa por definir caminhos para os percursos das empresas turísticas, longe das casas, José Carlos Rolo admite que pode ser esse o desfecho, embora não assuma qualquer compromisso sobre a data de resolução do problema.
Empresa recusa acusações de moradores
No site, a empresa Algarve Riders insta os turistas a "aventurarem-se num desafiante tour de moto 4, buggy ou jipe safari". No entanto, em declarações à TSF, o porta-voz da empresa diz que não se reveem nas acusações feitas pelos moradores.
Nuno Beldade afirma que atuam de uma forma profissional e que todos os veículos e guias estão caracterizados. "Temos uma atenção redobrada sempre que passamos perto das casas, para evitar o pó, o saltar de pedras e evitar danificar qualquer terreno", garante. Sublinha que os terrenos por onde passam as viaturas são públicos e não privados e que tentam sempre procurar "uma rotatividade de percursos para não estragar os caminhos e não incomodar os moradores".
Questionado sobre a possibilidade de poderem circular apenas num único percurso definido pela autarquia, de modo a provocar o menor incómodo possível, o representante da Algarve Riders mostrou-se disponível para acatar essa hipótese. Nuno Beldade considera que esta atividade "é uma mais-valia para a dinamização da região" do Algarve.