Com uma vida dedicada ao teatro, foi um dos fundadores do Teatro Experimental de Cascais. Tinha 86 anos.
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O encenador e ator Carlos Avilez, faleceu esta quarta-feira, aos 86 anos, vítima de paragem cardiorrespiratória, no Hospital de Cascais, disse à agência Lusa fonte do Teatro Experimental de Cascais, do qual foi um dos fundadores.
De acordo com a mesma fonte, Carlos Avilez deu entrada na terça-feira no Hospital de Cascais com uma indisposição, e viria a falecer cerca das 02h00 da madrugada desta quarta-feira naquela unidade hospitalar.
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Carlos Vítor Machado, mais conhecido por Carlos Avilez, nasceu em 1937, e estreou-se profissionalmente como ator em 1956, na Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro, onde permaneceu até 1963.
Com uma vida dedicada ao teatro, foi um dos fundadores do Teatro Experimental de Cascais (TEC), que completou 58 anos de existência no passado dia 13 de novembro.
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"O TEC está muito consternado com o falecimento desta figura notável do teatro. Ele estava com a saúde fragilizada, mas continuou sempre com muita vontade de trabalhar, porque ainda encenou a peça 'Electra', que estreou a 18 de novembro", segundo a mesma fonte.
Carlos Avilez, uma "pessoa encantadora" e "genial" pela marca que deixa no teatro
São José Lapa soube pela TSF da morte de Carlos Avilez. Em declarações à TSF, destaca a gentileza de um homem afetuoso, que lhe merece muito carinho.
"Tenho imenso carinho pelo Carlos Avilez, porque eu comecei a ver teatro muito cedo, com 8 ou 9 anos, e o que acontece é que vi imensas coisas do Avilez, ainda ele estava nos bombeiros voluntários. Depois trabalhei com ele no Teatro Nacional e ele era uma pessoa encantadora. A sua mais-valia era essa gentileza, era muito afetuoso sem fazer sentir às outras pessoas que o era", afirma.
Já do ponto de vista da encenação, São José Lapa garante que era "fácil" estar com Carlos Avilez. "Ele tinha um curso de matemática e os enquadramentos das peças de autor que eu fiz com ele tinham muita geometria no espaço. Isso era interessante saber se era uma forma clássica de fazer teatro. Era um querido", refere.
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Carlos Avilez fala de um homem do teatro, que sempre procurou captar novas gerações, lembra a atriz São José Lapa.
"Há um antes e depois do Teatro Nacional, mas aquele seu lado de pessoa que procura sempre funcionar de uma maneira a captar as novas gerações é muito interessante, acho que qualquer encenador ou diretor deseja fazê-lo", diz, rematando: "Foi um enorme prazer tê-lo conhecido, estou triste mesmo e é uma chatice ficarmos tristes."
O ator Rui Mendes salienta que Carlos Avilez foi dos primeiros de uma geração que deixa marca no teatro, mas era também um homem de uma grande gentileza e afeto no trato.
"Carlos Avilez, além de ser genial pelo seu trabalho, pela sua atividade, por aquilo que deixa, era também um homem com um trato fabuloso. Eu acho que não tinha inimigos. Foi uma geração muito importante e ele foi dos primeiros a aparecer na nossa geração a fazer coisas importantes (...) a dar um pontapé na gramática, no bom sentido", nota, sublinhando que Carlos Avilez é "uma inspiração". "É um exemplo de como se pode amar, ele amava profundamente o seu trabalho, o seu teatro, o nosso teatro."
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Esta última peça encenada por Avilez, a partir da trilogia "Electra e os fantasmas", de Eugene O'Neill - a 177.ª produção do Teatro Experimental de Cascais - estreou-se no auditório Academia Artes do Estoril, no Monte Estoril, Cascais, a 18 de novembro, e ficará em cena até 17 de dezembro.
Carlos Avilez foi presidente do Instituto de Artes Cénicas, diretor do Teatro Nacional S. João, no Porto, e diretor do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, tendo fundado a Escola Profissional de Teatro de Cascais, a cuja direção pertencia, integrando, também, o corpo docente.
Em 1964, dirigiu o Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC), trabalhou com o ator Raúl Solnado no Teatro Villaret, em Lisboa, e em 1970 foi diretor artístico e responsável pelo dia consagrado a Portugal na Expo'70 em Osaka, no Japão.
Em 1979 foi nomeado, juntamente com Amélia Rey Colaço, diretor da Companhia Nacional de Teatro I - Teatro Popular, então sediada no Teatro São Luiz, em Lisboa.
Trabalhou em França com Peter Brook e na Polónia com Jerzi Grotowsky, e, além de teatro, encenou várias óperas entre as quais "Carmen", "Contos de Hoffmann", "As Variedades de Proteu", "O Capote", "Inês de Castro", "O Barbeiro de Sevilha" e "Madame Butterfly".
Foi agraciado com a Ordem do Infante D. Henrique em 1995 e com as Medalhas de Mérito Municipal da Câmara Municipal de Cascais, de Mérito Cultural da Secretaria de Estado da Cultura e da Associação 25 de Abril.