Mortágua deixa Parlamento após Orçamento e não adianta futura liderança do Bloco de Esquerda
Em conferência de imprensa, a coordenadora nacional do partido adiantou que vai sair do Parlamento após "concluir o processo orçamental"
Corpo do artigo
A coordenadora nacional do BE, Mariana Mortágua, adiantou este sábado que vai deixar o mandato na Assembleia da República após o processo orçamental, no final de novembro, e rejeitou falar sobre "qualquer decisão sobre o futuro" do partido.
"Eu pretendo concluir o processo orçamental que iniciei e depois disso sair do Parlamento", afirmou Mariana Mortágua em conferência de imprensa na sede nacional do BE, em Lisboa.
A líder dos bloquistas anunciou esta manhã, numa carta aos militantes, à qual a Lusa teve acesso, que não irá recandidatar-se à liderança do partido considerando que a direção por si encabeçada foi incapaz de "gerar um novo impulso político e eleitoral".
Interrogada sobre o perfil do próximo líder do partido, e se será benéfico ter a mesma pessoa nesse lugar e no Parlamento, uma vez que o BE só tem um deputado, Mariana Mortágua rejeitou adiantar a sua opinião.
"Essa é uma decisão que não me cabe a mim, que cabe ao Bloco de Esquerda tomar, que cabe aos militantes do Bloco, à sua próxima direção. E esse é o processo que se inicia agora, ou que continua agora, de preparação da Convenção do Bloco", respondeu, referindo-se à reunião magna agendada para os dias 29 e 30 de novembro.
Já sobre o que mudou para tomar esta decisão, Mariana Mortágua adiantou que começou a refletir numa eventual saída após as eleições legislativas de maio, nas quais o partido teve o seu pior resultado de sempre naquele tipo de sufrágio, passando de cinco para uma deputada única.
Mortágua rejeitou que a sua decisão tenha sido tomada ou sequer condicionada por artigos de qualquer comentador, depois de o antigo militante Daniel Oliveira ter escrito esta semana um artigo de opinião no jornal Expresso no qual defendeu a sua saída.
"Essa reflexão iniciou-se no dia do resultado das legislativas. Mas considerei, e considero, que seria irresponsável, sem fazer essa reflexão, tomar uma decisão irrefletida e deixar o Bloco numa situação de vazio, até uma convenção que estava marcada para novembro", argumentou.
Mortágua diz ter feito a sua reflexão "com tempo e com ponderação".
A dirigente bloquista apontou que "no fim de um período uma maioria absoluta que caiu com estrondo há poucos anos", a do PS, liderada por António Costa, "e com o crescimento da direita e em particular da extrema-direita e da sua influência na política portuguesa, era preciso dar um novo impulso à esquerda".
"Era preciso que a esquerda conseguisse ter esse novo impulso para combater a direita, que conseguisse ampliar o seu espaço social, conseguisse também inverter uma redução do seu espaço eleitoral. Eu considero que esses objetivos não foram cumpridos e assumo as responsabilidades relativamente a essa reflexão que faço e à conclusão que tiro", sustentou.
Mortágua considerou que o seu partido poderá beneficiar de ter neste momento "outras pessoas, outras caras, outras vozes", tanto na coordenação, como na Assembleia da República.
"Esta é uma decisão pessoal, como só pode ser. A decisão sobre o futuro do Bloco, essa sim é uma decisão coletiva e que acontecerá na próxima convenção do BE e sairá do debate, em primeiro lugar, entre as várias moções que são candidatas à Convenção e depois o debate que acontecerá na própria Convenção", realçou.
Quanto ao seu futuro, Mariana Mortágua afirmou que "o afastamento da vida política é uma impossibilidade" e prometeu estar disponível para trabalhar no partido e "construir a esquerda".
"Sou também parte desse futuro, ainda que não como coordenadora do Bloco de Esquerda. Não neste momento como coordenadora e também não no futuro como deputada", afirmou.
Mariana Mortágua, 39 anos, economista, foi eleita coordenadora nacional do BE em maio de 2023, na última convenção nacional do partido, sucedendo a Catarina Martins, atual candidata à Presidência da República apoiada pelos bloquistas.
Nas legislativas de maio deste ano, o BE teve o seu pior resultado de sempre na sua história em eleições deste tipo, passando de cinco parlamentares para apenas uma, e nas autárquicas deste mês passou de cinco vereadores e 94 deputados municipais para uma vereadora em Lisboa e um total de 17 deputados em câmaras e freguesias.
Na lista do BE pelo círculo eleitoral de Lisboa nas últimas legislativas, surge em segundo lugar Fabian Figueiredo, antigo líder parlamentar bloquista.
Em terceiro, Andreia Galvão, que recentemente substituiu a coordenadora no parlamento quando participou numa flotilha que tinha como objetivo levar ajuda humanitária até à Faixa de Gaza, seguida por Ackssana Rodrigues da Silva em quarto e o dirigente do núcleo duro do BE Jorge Costa, em quinto.
