A atual coordenadora do partido admite que foi incapaz de "inverter a excessiva centralização da estrutura do Bloco e gerar um novo impulso político e eleitoral"
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Mariana Mortágua anunciou este sábado que não será recandidata à liderança do Bloco de Esquerda, depois de dois anos e meio à frente do partido.
Numa carta enviada aos militantes, a bloquista explica que esta decisão foi tomada depois de ter sido incapaz de "inverter a excessiva centralização da estrutura do Bloco e gerar um novo impulso político e eleitoral".
"Comunico-vos que decidi não me candidatar a um novo mandato de coordenadora do Bloco de Esquerda", lê-se na nota.
Mortágua admite que os objetivos a que se tinha proposto ficaram por cumprir, numa altura em que o partido viu reduzido o seu "espaço eleitoral". A renovação dos membros, diz, "não se revelou suficiente para relançar" a intervenção social dos bloquistas.
Atira ainda às "empenhadas campanhas de ódio" levadas a cabo pelos adversários políticos, reconhecendo que a direção do partido não conseguiu "neutralizá-las", e defende que a "precipitação de sucessivas campanhas eleitorais tirou espaço e tempo" à reflexão, prejudicando a "transformação efetiva do funcionamento do Bloco".
Assume, contudo, que, quando decidiu recandidatar-se à coordenação do BE, há dois anos e meio, "conhecia as difíceis condições políticas da esquerda" e aponta que, "depois do colapso da maioria absoluta do PS e com o reforço da direita e da extrema-direita era preciso encontrar outros caminhos", uma urgência que não foi cumprida.
Maria Mortágua sublinha ainda que toma esta decisão com a "tranquilidade" do "constante apoio de todos os camaradas" e garante que o faz por acreditar que o BE "beneficiará de ter, na coordenação e no Parlamento, pessoas com melhores condições do que aquelas" que tem hoje.
"Caberá a cada uma das moções presentes à próxima Convenção apresentar as suas alternativas de direção. A pluralidade reforça-nos", entende.
A bloquista aponta que a esquerda em geral "atravessa um período difícil", vincando que este é um fenómeno transversal no mundo. Mas reforça que o partido segue sem "medo" e com a confiança de que vai vencer "os novos fascistas e toda a opressão com a força da ideia socialista", adiantando que fará "parte desse caminho".
"No Bloco, temos orgulho em juntar diferentes gerações, experiências e sensibilidades que são parte essencial da luta popular em Portugal, nos combates do trabalho, da casa, contra as guerras e pela autodeterminação dos povos do mundo", remata.