Mortágua é "extremamente competente", mas BE pode tornar-se "mais radical" com nova líder
Quem o diz é António Lobo Xavier, que considera que Mariana Mortágua "evidenciou o seu radicalismo nos apelos que fez" durante o discurso de vitória. A nova liderança bloquista esteve em debate no programa O Princípio da Incerteza.
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O Bloco de Esquerda vai tornar-se mais radical com Mariana Mortágua na liderança. No programa O Princípio da Incerteza, o conselheiro de Estado António lobo Xavier elogiou a preparação de Mortágua, mas anteviu pouca margem para crescimento.
"Não só porque Mariana Mortágua é mais radical, porque evidenciou esse seu radicalismo nos apelos que fez, na lembrança do pai, em vários momentos sublinhou esse radicalismo, não tem o mesmo tipo de empatia com as pessoas, muito embora seja uma pessoa extremamente competente. A Mariana Mortágua é uma pessoa preparada, não se pode comparar com Catarina Martins. É uma pessoa muito preparada, rigorosa, que leva a sério a sua participação política", considerou António Lobo Xavier.
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Já a deputada socialista Alexandra Leitão defende que a esquerda à esquerda do PS não está em risco de desaparecer. Quanto à nova líder do Bloco de Esquerda, Alexandra Leitão diz que Mariana Mortágua centrou demasiado o seu discurso nas críticas ao Partido Socialista.
"Tomar como único ponto de crítica, como Mariana Mortágua fez, o Partido Socialista e o Governo, não sei se é a melhor maneira de fazer face a esta tentativa de abrir caminho num caminho que é estreito. Acho que não devemos confundir quem são os principais adversários políticos", afirmou, sublinhando a importância de serem "mais realçadas as afinidades".
"Eu sei que o Orçamento para 2022 é uma cicatriz que ainda existe, mas acho que partidos que, a meu ver, têm uma afinidade grande, que é a construção do Estado social, porque sim, eu ponho o Partido Socialista no espetro da esquerda, como é evidente, acho que devem tentar um diálogo construtivo e não o enfoque ser tanto na crítica só ao Governo, embora perceba a razão", referiu.
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Para Pacheco Pereira, não há grandes diferenças entre a nova e a ex-liderança do Bloco. Ainda assim, o historiador nota algumas diferenças, apontando que o discurso de Mariana Mortágua é agora mais apontado às causa sociais, embora considere que isso não vai ser suficiente para o partido e a esquerda ultrapassarem a crise que enfrentam.
"Quer a Catarina Martins, quer a Mariana Mortágua são duas mulheres muito competentes do ponto de vista político, a única diferença que apareceu no discurso da Mariana Mortágua foi ela valorizar, mais do que é costume no Bloco de Esquerda, os temas sociais, as questões sociais, as dificuldades da vida e os problemas da habitação. Mas isso por si só não chega para mudar, porque nós estamos hoje perante uma grande crise da esquerda portuguesa", explicou, considerando que pode tratar-se de "um ciclo", mas um ciclo "tem que ter asneiras para alimentar".
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"No caso português, quer o Bloco de Esquerda, quer o PCP, que são as duas organizações principais, não sei até que ponto compreenderam o buraco em que se meteram. O Bloco de Esquerda abandonou na sua ação política muito daquilo que são os temas que, em princípio, um partido com uma forte influência do marxismo era suposto aplicar: as questões sociais e as questões que têm a ver com a exploração, e substitui isso pelas chamadas causas fraturantes e quer se queira, quer não, a clientela de uma ou outra coisa não é a mesma", acrescentou.