"Não é uma vitória, perdemos todos." Familiares das vítimas falam em acusação inédita do MP
Associação de Vítimas de Pedrógão fala pela primeira vez da acusação do Ministério Público (MP). Diz que é algo "inédito, um assombro de resistência".
Corpo do artigo
"É mais do que uma Acusação. É memória futura numa sociedade conhecida por ter pouca memória." É assim que a Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) descreve a acusação do Ministério Público no final do inquérito aos incêndios de junho de 2017.
"É mais do que uma Acusação. É um documento pedagógico para responsáveis políticos, dirigentes e funcionários públicos, gestores da coisa pública e sociedade em geral", pode ler-se num comunicado enviado às redações pela associação liderada por Nadia Piazza.
O Ministério Público do Departamento de Investigação e Ação Penal de Leiria acusou esta quinta-feira 12 arguidos de várias áreas no âmbito do inquérito aos fogos nos concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Alvaiázere e Ansião.
Foram acusados dos crimes de homicídio por negligência e de ofensa à integridade física por negligência, sendo alguns destes de ofensa à integridade física grave.
A AVIPG destaca uma acusação "inédita na história da judicatura portuguesa, sendo por isso corajosa".
"Ousou ver onde, antes, outros negaram. A total incompetência dos agentes de proteção civil, a incompetência dos responsáveis na gestão e fiscalização da manutenção das servidões administrativas das redes viárias nacionais e municipais e linhas elétricas."
"É algo inédito, um assombro de resistência dos princípios basilares de um Estado de Direito numa sociedade cada vez mais descrente na Justiça", pode ler-se.
Contudo, escreve a associação, não há motivos para celebrar. Esta "não é uma vitória. Não há guerra nem vitórias possíveis nesse cenário. Já perdemos todos. Percebam. Já perdemos todos. Vítimas, sobreviventes, acusados e sociedade".
Também não é o fim, ressalva-se. "Não é o fim de um caminho, mas o princípio em busca de uma Justiça possível."
Além disso, há faltas a apontar ao Ministério Público: "recusou assacar responsabilidades políticas pela profunda mudança nos comandos distritais da ANPC em vésperas de época de incêndios" e "recusou assacar responsabilidades junto dos agentes operacionais no terreno (bombeiros e GNR)".