"Não ensinamos a dar socos." Artes marciais e psicologia na prevenção do bullying
Safe Program é o nome de um programa de combate ao bullying, que une defesa pessoal e psicologia, e que trabalha tanto com vítimas, como com agressores no sentido de evitar o conflito.
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O projeto é da Academia de Artes Marciais We Fight, em Espinho. O programa é flexível e divide-se na parte física, de proteção pessoal e psicológica, e o objetivo é dar segurança, autoestima e ferramentas para que as crianças saibam como reagir quando confrontadas com uma situação de bullying.
Filipe Azevedo é o proprietário da academia de artes marciais We Fight e o responsável pelo projeto. "A nossa ideia não é ensinar a dar socos e pontapés, até bem pelo contrário. Aqui trabalhamos o antes, o pré-conflito. Queremos dotar as crianças de ferramentas para evitar que sejam um alvo fácil. Queremos ensinar as crianças a falar, olhar, caminhar, falar, a encarar, dar autoconfiança, elaboramos um mapa de pré-conflito com várias ações que devem seguir para não serem vítimas de agressões numa fase inicial. Todos os inícios do ano letivos tínhamos pais a entrar na academia, porque os filhos eram vítimas de violência na escola. Com o tempo sentimos que não era fácil ajudar."
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Verónica Pereira é psicóloga e diz que o problema do bullying é cada vez mais comum. "A maior parte das crianças nem sequer tem uma conversa com os pais, não têm capacidade de reação e muitas vezes desenvolvem perturbações de ansiedade, o que os fragiliza ainda mais. Socialmente, a vida social é quase inexistente."
O Safe Program dá ferramentas para que estas crianças tenham capacidade de reação.
"Pegamos em situações reais, onde as crianças vão partilhando em grupo e se identificam. Sentem que não estão sozinhas. À medida de que se identificam sentem-se mais capazes e aí entramos em ação. Fazemos vários exercícios, como a carta do amor-próprio, por exemplo, exercícios práticos que os faz acreditar quer não são aquilo que achavam que eram."
Rúben Barbosa é professor de artes marciais e ensina técnicas de defesa pessoal e explica que "trabalhamos noções de distância, de perigo, de segurança, tudo o que pode envolver agressões físicas, mas também o insulto. A ideia é afastar de forma preventiva e ter confiança para dizer para e caso não pare denunciar e ter alguém que ajuda. Em determinadas situações o contacto físico é inevitável, daí o nosso foco ser dar estratégias para afastar o perigo e sair das situações o mais depressa possível. Posteriormente tratamos o pós conflito".
Filipe Azevedo explica que o programa destina-se a vítimas e a agressores. "Capacitar os agressores de que o que estão a fazer é errado e temos verificado que a maioria não tem noção do mal que está a fazer ao próximo. Fazem por brincadeira, para se evidenciarem e não têm noção do mal que estão a fazer ao próximo. É preciso que alguém os faça passar pelo mesmo nas temáticas do grupo e a cabeça deles começa a funcionar de forma diferente".
O Safe Program é flexível e adapta-se ao perfil da criança, o objetivo é fazer este programa chegar às escolas.