"Não foi feliz."José Ornelas assume que reação ao relatório de abusos sexuais na igreja "não foi adequada"
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa admitiu que a conferência de imprensa em Fátima não correu de forma "adequada".
Corpo do artigo
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, fez um mea culpa e assumiu que não foi feliz na primeira reação ao relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica. Em entrevista ao semanário Expresso, que será publicada esta sexta-feira, D. José Ornelas admitiu que a conferência de imprensa em Fátima realizada na sexta-feira, em que os bispos reagiram à lista de mais de cem padres sob suspeita de pedofilia, não foi feliz.
"Compreendo e assumo. Aquela comunicação, naquele dia, não foi fácil, não foi adequada e eu também não fui feliz. Não correu bem e isso eu assumo. Não consegui passar aquilo que levava para dizer", admitiu D. José Ornelas.
TSF\audio\2023\03\noticias\09\jose_ornelas_expresso_n_fui_feliz
Questionado sobre a afirmação de D. Manuel Clemente, que disse que o pagamento de indemnizações às vítimas podia ser um insulto, Ornelas disse que não queria "pôr um preço ao sofrimento".
"Mas o sofrimento é de cada pessoa. Nunca vou virar a cara a algo que seja para ajudar alguém que sofreu", acrescentou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
A Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais na Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.
15969342
Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais "devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'" deste fenómeno.
A comissão entregou à Conferência Episcopal Portuguesa uma lista de alegados abusadores, alguns no ativo, tendo esta remetido para as dioceses a decisão de afastamento de padres suspeitos de abusos e rejeitado atribuir indemnizações às vítimas.