São precisas "pessoas equilibradas". Fim do celibato "é falsa solução", também há "papás e mamãs abusadores"
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa até gostava de ver padres casados na Igreja, mas reconhece que não é o fim do celibato que vai acabar com os abusos.
Corpo do artigo
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas, afirmou que são precisas "pessoas equilibradas" e o fim do celibato "é uma falsa solução" para os abusos sexuais. No entanto, em entrevista ao semanário Expresso, José Ornelas admitiu que até gostava de ver padres casados na Igreja, lembrando que também há "papás e mamãs abusadores".
"Há de haver sempre homens e mulheres que optam por uma vida celibatária. Agora, que isso esteja ligado à função de padre é outra coisa. É uma norma disciplinar, não é uma norma teológica. E pode ser mudada, e deve ser feito dentro da Igreja. Mas isso é uma falsa solução. O fim do celibato não vai acabar com os abusos", afirmou o bispo.
Para José Ornelas, não é possível ficar indiferente aos testemunhos das vítimas. No entanto, não sabe o que vai acontecer aos casos que estão no Ministério Público, existindo muitos "negacionistas dentro da Igreja e fora dela".
Questionado sobre um eventual pedido de desculpas da Igreja pelo encobrimento dos casos, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou que "pedir desculpa significa, antes de mais, reconhecer". Se anteriormente a cultura instalada na igreja ignorava o impacto dos abusos nas vítimas, agora "não vai mais acontecer", garantiu, revelando que está a ser pensado a criação de um ponto de escuta.
O ponto de escuta funcionará à semelhança da Comissão Independente, mas "vai ser operativo, e não simplesmente de estudo".
15971707
Sobre o impacto do escândalo na Igreja Católica na adesão dos jovens à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), José Ornelas não está preocupado.
"A Fundação JMJ tem um acordo de parceria com a APAV para serem eles os responsáveis pela segurança nesse campo. Mas não posso embarcar nessa ideia, a Igreja não é um antro de pedofilia. Agora é preciso estar atento, porque numa concentração de jovens não ter esse cuidado é que seria mau", acrescentou.