"Não podemos tratar os trabalhadores como estúpidos." Grupo de construção paga aulas de filosofia

Mais de 500 trabalhadores do grupo dst, uma empresa de engenharia e construção com sede em Braga, estão a ter aulas de filosofia em horário laboral como medida de estímulo ao pensamento crítico enquanto fator de competitividade.

A pós-graduação já vai na segunda edição e a procura aumentou significativamente por parte dos trabalhadores, passando de 318 trabalhadores para os atuais 505, a grande maioria com formação superior.

O presidente do grupo, José Teixeira, acredita que as artes, a cultura, a filosofia são "um martelo poderosíssimo, dão-nos um ingrediente de liberdade, que nos induz muito mais criatividade".

O empresário argumenta que as empresas e os trabalhadores não querem "pão com manteiga", querem "ouvir, discutir, ter uma voz. Não podemos tratar os trabalhadores como estúpidos".

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Além disso, acrescenta José Teixeira, importa "procurar a causa das coisas" para compreender por que o setor da construção "é das indústrias mais atrasadas tecnologicamente" e encarada "numa base de feio, porco e mau", com "profissões estigmatizadas socialmente, sobretudo do lado dos ofícios".

É para ajudar a desconstruir o estigma e a promover o pensamento crítico do capital humano da empresa que às quintas-feiras, dentro do horário laboral, os trabalhadores podem frequentar a pós-graduação em Filosofia, ministrada online pela Universidade Católica.

Os novos alunos estão entusiasmados, mas não estranham esta oferta da empresa, apontando outras iniciativas de índole cultural e artística que já fazem parte do adn da construtora. "À quinta feira lemos e discutimos um pequeno texto, à sexta feira levamos um pequeno texto para ler em casa e discutir entre nós, o próprio complexo [da empresa] oferece-nos esculturas, pinturas e pequenas frases que vamos encontrando", descreve Rui Pinheiro, projetista, responsável pelo desenvolvimento de redes na dstelecom, do grupo dst.

Isaque Carneiro, outro dos alunos, é gestor de projeto na dstelecom e está a estudar filosofia para melhor compreender o mundo. "Atualmente somos bombardeados com notícias económicas, políticas, sociais que às vezes nem sabemos distinguir o que é certo e o que é errado e acho que a filosofia nos vai levar a um patamar de conhecimento e a uma maneira diferente de pensar", justifica. Para este trabalhador, os ganhos ultrapassam o âmbito profissional, permitindo um enriquecimento pessoal, com impactos sociais. "Acordar de manhã não pode ser só por dinheiro", atira.