"Não se justifica sair de casa dos meus pais." Coimbra em protesto pelo direito à habitação
A organização do protesto deste sábado em Coimbra mostra-se satisfeita com a adesão e considera que é "prova viva" que as medidas do Governo não estão a resultar.
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"Tanta gente sem casa. Tanta casa sem gente" ou "Habitação é um Direito, sem ela nada feito" eram algumas das mensagens exibidas nos protesto deste sábado, em Coimbra, pelo direito à habitação.
João Rocha tem 26 anos, trabalha há dois, e ainda vive com os pais: "Com os salários de hoje em dia, pelo menos no meu caso, não se justifica agora sair de casa dos meus pais para arrendar uma casa com metade do meu salário."
Para o jovem, em Coimbra "é natural que haja muita procura de casa", sendo uma cidade que todos os anos recebe milhares de estudantes. Ainda assim, diz que "há um determinado aproveitamento dessa situação e os preços aumentam loucamente".
Foi pelos filhos e para todos os jovens deste país que Maria João Pimenta se juntou à manifestação "Casa para Viver", "porque têm direito a uma habitação, a acabar um curso, ter um emprego digno e bem pago e terem direito a viver com dignidade neste país".
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"Há um aproveitamento claro"
"A minha filha vive com o namorado, tem um emprego com recibos verdes há três anos. É licenciada. Ele tem 31 anos, é cozinheiro e vive comigo. É por eles que estou aqui e por outros jovens deste país", conta.
Mariana Rodrigues é do Movimento Porta Adentro, um dos que esteve na organização deste protesto que se concentrou na Praça 8 de Maio. À TSF conta que o problema dos preços da habitação tem "vindo a aumentar" em todo o país e a cidade não é exceção: "Só cá em Coimbra, por exemplo, os preços das rendas, de 2021 para 2023, aumentaram 30%."
Mariana Rodrigues admite que o facto de Coimbra ser uma cidade de estudantes traz mais pressão ao mercado imobiliário e conta que sente "uma inflação de todos os agostos para todos os setembros no preço das rendas e das casas".
"Como somos uma cidade que vive da sua comunidade estudantil, há um aproveitamento claro para aumentar o preço das casas quando vêm novos estudantes para a cidade e não há habitação pública nem residências suficientes para conseguir albergar todas as pessoas que vêm estudar para a cidade".
Entre as soluções, Mariana Rodrigues aponta que, "desde já, é necessário transformar os edifícios que estão em condições de habitabilidade em residências estudantis". Defende ainda o "controlo das rendas através da tabelação e dos limites máximos das rendas", bem como a "proibição da venda de casas a não residentes".
Segundo a organização, participaram no protesto entre 400 a 500 pessoas. "Estou satisfeita e não estou surpreendida. De facto é a prova viva de que as medidas que foram implementadas tanto no programa Mais Habitação e que estão a ser discutidas pelo Governo para tentar abafar a reivindicação social que se sente em torno da problemática da habitação não está a resultar. E as pessoas saíram à rua, não só em Coimbra, mas nas restantes cidades do país. Movimentaram-se mais, reivindicaram mais em prol do cumprimento do direito à habitação digna para todos", afirma Mariana Rodrigues.
Na manifestação deste sábado surgiram ainda dois apoiantes do Chega com uma bandeira do partido, mas acabaram por se retirar depois dos manifestantes terem gritado "Vai-te embora".