Shahd Wadi, escritora e tradutora palestiniana a viver em Lisboa desde 2006, diz no programa TSF "A Distância Que Nos Aproxima" que "Portugal pode estar a ser cúmplice com genocídio na Palestina"
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Doutorada em Estudos Feministas pela Universidade de Coimbra, com a tese "Corpos na trouxa: histórias artísticas de vida de mulheres palestinianas no exílio", Shahd Wadi lançou este ano Chuva de Jasmim (Editorial Caminho), "o primeiro livro palestiniano de poesia portuguesa". Ou vice-versa. Literatura transcultural cuja quarta edição já está esgotada.
Diz saber o cheiro da antiga terra da família, embora nunca lá tenha estado. Em julho de 1948, em Al-Muzayri'a, o pai de Shad estava no ventre da avó da poeta. Com a declaração de independência de Israel, a Nakba expulsou dali a família Wadi, assim como centenas de milhares de outros palestinianos das suas casas.
Ao pai de Shad nem foi permitido nascer na antiga vila palestiniana — foi como refugiado, numa tenda perto de Ramallah, que chegou ao mundo. Destino semelhante teve a filha que fugiu do Líbano na barriga da mãe, em 1983. Nasceu em Alexandria, no Egipto, cresceu na Jordânia e só pisou a Palestina aos 15 anos. Está em Portugal desde os 22.
Shad Wadi é "palestiniana entre outras possibilidades", estrangeira "em todo o lado", cuja fronteira está em si mesma. Por cá, é uma das vozes mais ativas na luta pela auto-determinação da Palestina e é a convidada de A Distância Que Nos Aproxima, programa da TSF — no ar este domingo, às 13h00 e às 19h00 —, que dá voz a imigrantes integrados das diferentes nações a residirem em Portugal.
A caminho dos dois anos de ofensiva israelita após os ataques de 7 de outubro, Shahd não tem dúvidas de que "Gaza está a desaparecer e as pessoas já não têm vida". O conflito israelo-palestiniano tem feito incontáveis vítimas ao longo de décadas, sendo que a solução de dois Estados continua a ser uma possibilidade defendida por várias partes. No entanto, para Shahd Wadi, enquanto morrem pessoas diariamente, o reconhecimento da Palestina não é a prioridade.
Em Chuva de Jasmim há alusões à liberdade cá e lá. Tendo a Faixa de Gaza sido um dos principais exportadores mundiais de cravos antes do bloqueio israelita, não terão as flores de Gaza descido já a avenida, num qualquer 25 de Abril? A poeta já se perguntou sobre o mesmo. E o sonho de Shahd Wadi é vir a descer uma Avenida da Liberdade, na Palestina, com cravos vindos de Portugal.
Na entrevista que deu à TSF, a escritora afirma:
Portugal pode estar a ser cúmplice com o genocídio em Gaza, uma vez que continua a ter relações comerciais com Israel, incluindo negócios de armas. É preciso garantir que isso não aconteça, algo que é muito questionável neste momento.
Segundo os últimos números do Ministério da Saúde do território, desde outubro de 2023 já foram vítimas dos ataques israelitas na Faixa de Gaza, 58,765 mortos e 140,485 feridos, sem contar com as pessoas sob escombros de edifícios destruídos.
