Entre os moradores admite-se que muita gente deixou de pagar renda "há anos", embora os valores sejam em regra muito baixos, menos de dez euros. Depois de muitos anos de inércia, o senhorio - a Câmara Municipal de Loures - diz que acabou a impunidade e "quem não pagar, vai ser despejado". Os devedores podem pagar as rendas em atraso ao longo de cinco anos.
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Quem descer a rua, junto à Biblioteca Municipal José Saramago, dificilmente percebe onde começa e acaba o bairro municipal das Sapateiras: "São aqueles prédios amarelos e cor-de-rosa", explica um morador dos prédios azuis.
A diferença parece ser apenas na cor. Mas de um lado consta que só paga renda quem quer, do outro os senhorios não perdoam.
É fácil confirmar com Waldemar Luís, um adolescente que vem a sair de casa de um amigo no bairro municipal. "A minha família, somos três, paga 350 euros de renda, por três assoalhadas. Vivo daquele lado, não sou do bairro", justifica.
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Sandra Abdul chegou ao lugar onde nasceria o Bairro das Sapateiras em 1993. "Fui a primeira, quando cheguei não havia ninguém."
Sandra vive num dos prédios amarelos da linha da frente. Visto de mais perto não tem lá grande ar. "Não tem campainha, arrombaram a porta da frente", garante que antigamente não era assim, e responsabiliza o senhorio, "agora a câmara começou a meter cá certas pessoas..."
A moradora inaugural do bairro das Sapateiras paga pouco mais de nove euros de renda, "nem chega a dez". Recebe o rendimento social de inserção, mas aponta o caso "de outros" que nas mesmas condições "não pagam". Ainda assim, acha que merecem uma segunda oportunidade, "se não pagarem então, fora!"
Manuela é menos condescendente. "A regra aqui é não pagar! As pessoas pura e simplesmente não pagam há anos, é um hábito. E também não há consequências".
Há muitos carros estacionados à volta dos prédios. Uns a cair de podres, outros reluzentes, de luxo. Também há roupa estendia num espaço aberto entre edifícios.
Entre as pessoas que circulam a esta hora, muitos recebem Rendimento Social de Inserção (RSI), mas não será por isso que não pagam. Avelino, proprietário de um comércio no bairro até culpa a Câmara Municipal. "São rendas muito baixas, há rendas de dois euros, ou cinco euros, algo se passa quando não pagam."
Perante o ultimato da autarquia, Manuela não tem dúvidas de que muita gente em risco de ser despejada vai querer pagar. "O problema é que será muito dinheiro, são muitos anos em dívida".
Pelas contas do município são aí uns 15 milhões de euros de rendas em atraso.