Norte regista menos 10% das situações de urgência psiquiátrica, mas tempo médio de internamento subiu
Coordenador regional do Norte para a saúde mental, Pedro Morgado, está há um ano a exercer funções. Até 2025, pretende colocar mais equipas comunitárias de saúde mental no terreno e dotar os hospitais de melhores condições infraestruturais.
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Os dados são relativos à Urgência Metropolitana de Psiquiatria do Porto, que dá resposta a mais de dois milhões de pessoas. Porém, o coordenador regional do Norte para a saúde mental, Pedro Morgado, acredita que estes números podem sugerir que após a pandemia não houve um aumento da doença grave, mas sim um maior recurso aos serviços e menor estigma social em relação à doença mental.
"Nos primeiros cinco meses do ano, nós diminuímos o número de situações que necessitaram de atendimento urgente por psiquiatria em 10%. Outro indicador que também está a diminuir de forma muito positiva é relativo ao número de internamentos, de cerca de 10%. Continuamos a ter problemas nos internamentos que estão a ter uma demora média um pouco maior", declara.
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) prevê um investimento de 88 milhões de euros para a reforma da saúde mental. Trata-se do "maior investimento de sempre na área da saúde mental", no entanto, continua a ser insuficiente para "dar resposta a todas as necessidades".
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"É muito claro para todos que o país ainda não coloca à disposição dos cuidados de saúde mental todos os recursos que seriam necessários", afirma.
Entre as prioridades do mandato, iniciado em 2022 e com término previsto para 2025, está a criação de equipas comunitárias de saúde mental, também financiadas pelo PRR. Estas são constituídas por um médico psiquiatra, enfermeiros, psicólogos, terapeuta ocupacional, assistente social e um administrativo. O objetivo passa por realizar um acompanhamento "mais próximo e personalizado" às necessidades dos pacientes, visto que aqueles recursos humanos ficam responsáveis por uma determinada zona geográfica.
Braga vai receber uma das equipas comunitárias, sendo que a outra ficará sediada no Entre Douro e Vouga. A equipa bracarense irá dar resposta ao ACES Gerês/Cabreira. No futuro, há a possibilidade de criar uma outra equipa para servir a zona de Barcelos/Esposende.
Em funcionamento estão já três equipas na área da infância e adolescência no Tâmega e Sousa, Vila Real e Viana do Castelo. No caso dos adultos são duas em Bragança e Vila Real.
"Numa situação ideal, por cada 75 mil a 100 mil pessoas, nós deveríamos ter uma equipa comunitária. Estamos longe desse objetivo", garante.
Está em curso a construção do novo ambulatório de saúde mental do Hospital de Guimarães
Estará para breve a inauguração do novo Centro Hospitalar do Médio Ave, em Santo Tirso. Além desta empreitada, Pedro Morgado faz um longo levantamento do número de outras obras que já estão no terreno.
Em curso estão as ampliações dos serviços de psiquiatria do Hospital Gaia/Espinho, os internamentos do Hospital da Senhora da Oliveira em Guimarães, assim como as unidades de consulta ou de hospital de dia de Bragança, Guimarães, Gondomar, Matosinhos, Santa Maria da Feira e Vila Real.
Em fase de construção está também o novo internamento para o Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, em Santa Maria da Feira, e para a Unidade Local de Saúde de Matosinhos. Fora do pacote de intervenções fica o internamento do Centro Hospitalar da Póvoa/ Vila do Conde.
"A doença psiquiátrica comum deve ser tratada nos cuidados de saúde primários"
Para o coordenador regional do Norte para a saúde mental, Pedro Morgado, o Serviços Nacional de Saúde (SNS) só teria a ganhar com a criação de "redes de psicólogos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e enfermeiros", visto que isto iria permitir uma "maior articulação", entre os cuidados primários, secundários e terciários. "Muitas vezes os doentes têm alguma dificuldade em navegar no SNS porque têm de ir a muitos sítios para resolver um único problema", lamenta.
O também docente da Universidade do Minho defende uma maior inclusão dos médicos de família, no tratamento de "perturbações ansiosas ou depressivas", dando o exemplo do excelente caso da hipertensão e da diabetes.
Entre o final do ano de 2023 e o início de 2024, será publicada a nova versão do Plano Regional de Saúde Mental. A equipa aguarda a publicação das novas redes de referenciação em saúde mental.
Recorde-se que o Plano Nacional de Saúde Mental tem vindo a ser estendido desde 2016.
Notícia atualizada às 09h45