"Nova linha de financiamento." Ministra revela medidas para combater precariedade entre investigadores
Elvira Fortunato rejeitou, no Fórum TSF, que a última década tenha sido perdida para a ciência em Portugal.
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Contra o trabalho precário e em defesa da carreira de investigação, os cientistas vão manifestar-se, esta terça-feira à tarde, em Lisboa. Exigem respostas do Ministério da Ciência para o que dizem ser um problema que se arrasta há anos: os vínculos precários.
André Carmo, do departamento do ensino superior da Fenprof, defendeu no Fórum TSF que a ciência em Portugal hoje é sinónimo de precariedade e que o Estado não dá uma resposta concreta.
"Portugal é um dos países na União Europeia onde a produtividade científica mais cresceu na última década. Este ganho muito significativo reflete-se em vários indicadores, mas não foi acompanhado, como deveria ter sido, de um reforço da estabilidade laboral e da melhoria das condições de trabalho dos investigadores", afirmou à TSF André Carmo.
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Em resposta, a ministra da Ciência e do Ensino Superior garantiu que o Governo está a tomar medidas para combater a precariedade.
"Nós estamos neste momento a lançar exatamente uma nova linha de financiamento para combater a precariedade dos investigadores porque queremos assegurar que os investigadores não podem continuar a ter uma situação precária. Por exemplo, ao fim de 20 anos ou mais, tendo dado tudo o que puderam e o melhor que sabem fazer às instituições nas quais têm trabalhado. Portanto, vamos lançar agora em julho um aviso que basicamente quer combater a precariedade. Como sabemos, temos um conjunto de cerca de mil investigadores ativos no âmbito da norma transitória. De qualquer das maneiras, este concurso não vai ser exclusivo para os investigadores da norma transitória porque nós temos muito mais investigadores em precariedade. Investigadores que estão contratados ou de projetos europeus ou mesmo abrigo de outros de outros programas. Vamos lançar essa linha de financiamento, mas não vai ser um contrato feito diretamente com os investigadores. Vai ser um programa feito com as instituições", revelou Elvira Fortunato.
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A ministra rejeitou também a ideia defendida no Fórum TSF pela Fenprof e pelo professor Carlos Fiolhais de que os últimos dez anos foram uma década perdida para a ciência em Portugal.
"É evidente que não posso aceitar que se diga que temos perdido uma década, esse não é o caso. Aliás, todos os indicadores mostram que não perdemos uma década. Cada vez publicamos mais artigos científicos, cada vez mais os investigadores que estão em Portugal conseguem captar mais projetos competitivos através da própria Comissão Europeia, neste caso através do Horizonte Europa. Portanto, não podemos uma década e estamos muito mais competitivos Por fim, Elvira Fortunato desafiou as empresas a investir na ciência em Portugal, lembrando que não pode ser um esforço feito apenas pelo Governo", sublinhou a ministra da Ciência e do Ensino Superior.
Por fim, Elvira Fortunato desafiou as empresas a investir na ciência em Portugal, lembrando que não pode ser um esforço feito apenas pelo Governo.
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"Estamos a investir, estamos. É evidente que o orçamento é finito, mas aquilo que temos de fazer também, nomeadamente em termos da percentagem do PIB que se faz investigação, basicamente é fazer com que as empresas e o nosso tecido económico também invista mais em ciência. É isso que também é preciso, portanto não é só do nosso lado investirmos em ciência, do lado do Ministério da Ciência, mas é também fazer com que as próprias indústrias e a economia vejam que têm de investir mais em ciência", alertou.
Já Maria Manuel Mota, diretora do Instituto de Medicina Molecular, falou mesmo num investimento a sério na ciência.
"Temos que aliar as palavras e as ações e muitas vezes o que ouvimos dos nossos dirigentes políticos é dizerem que a ciência é importantíssima. A nossa sociedade viu com o que passámos nos últimos dois/três anos que a ciência é crítica para a nossa vida e, portanto, acho que todos em pensamento, em palavras, transmitimos isso, mas depois não transmitimos em acões e quando falamos em ações obviamente que também nos referimos em termos de financiamento que temos, como sociedade, para dar", explicou Maria Manuel Mota.
Para mudar a ciência em Portugal, segundo Maria Manuel Mota, é preciso pensar a longo prazo.
"Não é com medidas avulso para resolver o problema desta ou daquela geração. Obviamente temos que tomar essas medidas agora porque deixámos o problema instalar-se e algumas das situações estão de tal forma degradadas que obviamente temos que resolver o problema, mas temos que pensar melhor o futuro e, mais uma vez, o bom da situação em que estamos, em atraso, tem um lado positivo atraso, que é não termos de reinventar a roda. Existem vários sistemas no mundo e todos eles, com algumas dificuldades, funcionam muito melhor do que o nosso", acrescentou a diretora do Instituto de Medicina Molecular.
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