Trata-se de uma unidade de eletrólise de 100 megawatts para produzir hidrogénio verde e uma unidade de produção de biocombustível avançado.
Corpo do artigo
O Conselho de Administração da Galp avança com dois investimentos de duas novas unidades de produção no perímetro da refinaria de Sines: uma unidade de eletrólise de 100 megawatts (MW) para produzir hidrogénio verde e uma unidade de produção de biocombustível avançado.
A Galp apresenta este como o "maior investimento de sempre em Portugal na produção de hidrogénio verde e de biocombustíveis, e um dos maiores à escala europeia" e isso representa o "início do processo de descarbonização da refinaria de Sines, que é a maior unidade industrial do país".
De acordo com o responsável pela área do hidrogénio verde da Galp, Sérgio Goulart Machado, "os trabalhos de construção destes dois investimentos vão iniciar-se já no próximo mês e os dois devem iniciar a produção no final de 2025".
TSF\audio\2023\09\noticias\25\jose_milheiro_7h_galp
O projeto de 100 megawatts de hidrogénio (verde) vai fornecer a refinaria de Sines, que já hoje utiliza hidrogénio (cinzento) como matéria-prima. Sérgio Goulart Machado explica que "a refinaria é o maior utilizador de hidrogénio em Portugal e nessa produção de hidrogénio são emitidas 25% das emissões de CO2 da refinaria", resultando numa redução de 95800 toneladas de emissões de dióxido de carbono equivalente anuais.
Portanto, "com este investimento, nós estamos a dar um passo muito grande na descarbonização daquele ativo. Estes 100 megawatts são o primeiro passo nessa direção", adianta a Galp.
Quando estiverem a operar, em 2025, as duas unidades precisam de 130 trabalhadores diretos e são gerados 350 postos de trabalho de forma indireta. "Mais importante, talvez, do que isso, até seja que esses dois investimentos são no fundo, o início da viagem de descarbonização daquilo, que hoje é a refinaria de Sines e que no futuro será um parque de energias Verdes. E estamos a fazer exatamente isso que é a transição energética e, portanto, além de gerar novos empregos, ajuda a ancorar os empregos existentes e ajuda a criar as bases para a criação de mais empregos de transição energética naquele lugar que tem uma importância muito grande para a Galp," justifica Sérgio Goulart Machado.
175 milhões de litros de água
Para a produção de Hidrogénio a Galp precisa de água e de eletricidade. A água virá de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) da empresa Águas de Santo André, mas de acordo com Declaração de Impacto Ambiental (DIA) da Agência Portuguesa de Ambiente (APA), "caso não se encontrem concluídas as intervenções na ETAR de Ribeira de Moinhos que permitam viabilizar esta solução, poderá ser dado início à exploração através do recurso a outras origens de água, a título excecional e mediante fundamentação a apresentar à autoridade de Avaliação de Impacte Ambiental, incluindo evidência do acordo celebrado com a empresa Águas de Santo André e indicação do período expectável de duração desta solução alternativa".
A Galp conta que a ETAR esteja disponível para fornecer 175 milhões de litros de água por ano, o que representa 3% das necessidades de água industrial da refinaria de Sines.
Quanto à eletricidade para alimentar o eletrolisador. "Toda a energia elétrica que vai ser utilizada será não só eletricidade renovável, portanto proveniente das fontes renováveis que estão à disposição na Península Ibérica e que são abundantes, nomeadamente fotovoltaico e eólico. E será não só a eletricidade renovável, mas, muito importante, será eletricidade renovável adicional. Ou seja, são parques fotovoltaicos e parques eólicos novos que alimentarão esta unidade", sublinha.
"Esta unidade não estará a competir com com os utilizadores atuais, com os consumidores atuais de eletricidade por eletricidade renovável. Esta eletricidade chegará ao eletrolisador da rede nacional de transporte de eletricidade e é eletricidade gerada no mercado ibérico de eletricidade, portanto em Portugal e Espanha", reforça o responsável.
Esta unidade de hidrogénio, Galp H2 Park, representa um investimento de 250 milhões de euros e a Galp está com 100% do investimento.
Já a unidade de biocombustíveis avançados representa um investimento de 400 milhões de euros. Para este investimento a Galp conta com um parceiro que é o Grupo japonês Mitsui, que terá 25% a do capital desta unidade.
Biocombustível avançado
A nova unidade vai ter uma capacidade de produção máxima de cerca de 262 mil toneladas por ano de biogasóleo ou de 193 mil toneladas por ano de biojet e de outros produtos, também de origem renovável, como a nafta e o propano.
O projecto HVO@Galp é uma unidade industrial para a produção de biocombustíveis avançados (HVO - Hydrogenated Vegetable Oils e SAF - Sustainable Aviation Fuels), o que permite à Galp a substituição gradual dos tradicionais gasóleo e querosene de aviação (jet) de origem fóssil por combustíveis de origem sustentável, com base em óleos alimentares usados e resíduos oleosos de animais e plantas.
Para terem acesso às matérias-primas, a Galp está "a estabelecer as fontes de abastecimento em Portugal, na Península Ibérica, mas também importadas dos mercados onde estão disponíveis. Estamos a montar uma rede de importação destas matérias-primas que vai até à Ásia", adianta Sérgio Goulart Machado.
Para o responsável este acesso aos mercados asiáticos ficará a cargo da Mitsui. "A Mitsui é um grupo japonês com uma vasta panóplia de negócios mas também com uma boa implantação nesta área".
Com a importação da Ásia de gordura animal para a produção de biocombustível em Portugal pode-se questionar a sustentabilidade deste investimento e a sua pegada ecológica mas para Sérgio Goulart Machado, "não estamos" a aumentar a pegada ecológica porque "em ciclo de vida os combustíveis produzidos por esta unidade permitirão uma redução de CO2 sempre superior a 70%, esse aliás é um normativo; mas em valores que andaram por volta dos 80 à 90% de redução de CO2".
Por outro lado, como refere Sérgio Goulart Machado, "esta unidade tem uma particularidade que permite a operação em dois modos. Permite a operação no chamado modo HVO, em que vai produzir biodiesel, portanto, um combustível rodoviário que substitui o diesel, mas pode produzir também o chamado SAF, que é o Stable Aviation Fuel que é um biocombustível avançado dirigido à aviação e, portanto, dirigido a um setor onde as emissões são particularmente difíceis de abater".
O responsável lembra que "no transporte rodoviário, nós temos soluções de eletrificação, por exemplo. No transporte aéreo essas soluções não são tão evidentes e o caminho passa sempre pelas moléculas. Moléculas bio são estes SAF produzidos a partir destas unidades ou moléculas sintéticas, construídas a partir de hidrogénio verde e, portanto, estes 2 investimentos permitem dar passos à nesse sentido", conclui.