Novo aeroporto em risco? Especialistas em obras públicas temem que queda do Governo atrase grandes projetos
O presidente do Conselho Superior de Obras Públicas confia que o PS e PSD vão manter o acordo, mas os antigos ministros Mira Amaral e Augusto Mateus não têm tantas certezas.
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Numa altura em que o país tem um primeiro-ministro demissionário, Carlos Mineiro Aires, o presidente do Conselho Superior de Obras Públicas e também presidente do grupo de acompanhamento da Comissão Técnica Independente do novo aeroporto, confia que o PS e o PSD vão manter o acordo para que o novo aeroporto seja finalmente construído.
"Espero que o atual Governo ainda se mantenha em funções, até porque não sei qual é que é o desfecho, que ainda não se sabe, mas quando chegar a altura vai ser entregue ao destinatário. Aquilo é uma resolução de Conselho de Ministros e é muito importante, tem um aspeto único. Aquilo corresponde, grosso modo, a um pacto de regime, porque aquela redação foi acertada entre os dois maiores partidos, o PS e o PSD, portanto não faria muito sentido agora que qualquer um deles viesse questionar o que foi feito ao abrigo desta resolução de Conselho de Ministros", afirmou à TSF Carlos Mineiro Aires.
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Já Mira Amaral, antigo ministro do PSD, não esconde a preocupação com a queda do Governo e teme pelos grandes projetos que ainda estão por concluir, como o novo aeroporto.
"Obviamente que uma queda do Governo gera um impasse de decisões do aeroporto e do Portugal 2030, que ainda mal arrancou. Há uma série de dossiers que estavam para ser decididos e agora com a queda do Governo, é mais um adiamento de algum tempo. Isto para mim é lamentável. Primeiro porque o Partido Socialista e o primeiro-ministro, António Costa, desperdiçaram uma oportunidade única de um Governo de maioria absoluta, com estabilidade política, para poder desenvolver o país. Em segundo porque dá sempre lugar a atrasos em muitas decisões que estariam para ser tomadas. Para mim isto é muito preocupante", explicou Mira Amaral.
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Por sua vez, o ex-ministro da Economia e professor do ISEG, Augusto Mateus, defende que é preciso que os governantes tenham uma estratégia para as grandes obras públicas.
"Temos que saber o que queremos. Visão estratégica, o que vale a pena, o que não vale a pena e, obviamente, vai ser possível, numa democracia como a portuguesa, encontrar uma maioria esclarecida que seja capaz de levar à prática os grandes projetos nacionais. É preciso capacidade técnica, é preciso capacidade política, é preciso vontade social. São precisas muitas coisas, mas basicamente é em democracia que nós conseguimos fazer isso e, portanto, há-de ser possível em democracia, em Portugal, poder mobilizar a maioria dos portugueses para realizar coisas que são do seu próprio interesse", sublinhou Augusto Mateus.
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Sobre a demissão do primeiro-ministro, Augusto Mateus recusou fazer comentários.
O primeiro-ministro, António Costa, pediu na terça-feira a sua demissão ao Presidente da República, que a aceitou, após o Ministério Público revelar que é alvo de investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio.
O Presidente convocou para esta quarta-feira os partidos para uma ronda de audiências no Palácio de Belém, em Lisboa, e vai reunir o Conselho de Estado na quinta-feira.
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Numa declaração no Palácio de São Bento, António Costa recusou a prática "de qualquer ato ilícito ou censurável" e manifestou total disponibilidade para colaborar com a justiça "em tudo o que entenda necessário".