Novo gasoduto deve levar "dois ou três anos" a construir. Em 2018, foi chumbado um traçado
Projeto apresentado pela REN ligava Celorico da Beira a Vilar de Frades, na fronteira com Espanha, mas foi chumbado por comprometer a paisagem do Alto Douro Vinhateiro.
Corpo do artigo
Conseguido o acordo em sede europeia para criar um gasoduto marítimo que transporte também hidrogénio verde entre a Península Ibérica e França, chega o momento de olhar para o mapa e tentar perceber por onde vai passar o novo projeto que deverá demorar "dois ou três anos" a construir.
Em Bruxelas, o primeiro-ministro, António Costa, explicou que o acordo conseguido esta quinta-feira permite "ultrapassar definitivamente o antigo projeto, o chamado MidCat, e desenvolver um novo projeto", que vai chamar-se "Corredor de Energia Verde". "Permitirá complementar as interconexões entre Portugal e Espanha, entre Celorico da Beira e Zamora, e também fazer uma ligação entre Espanha e o resto da Europa, ligando Barcelona e Marselha, por via marítima", precisou.
Ora, o único traçado conhecido para um projeto desta natureza entre Celorico da Beira e Zamora, passando por Vale de Frades, surge num documento da REN, datado de junho de 2018, sob a designação de "NOVO GASODUTO DE INTERLIGAÇÃO COM A REDE DE TRANSPORTE ESPANHOLA", um projeto de 167 quilómetros inserido na Rede Nacional de Transporte de Gás Natural (RNTGN) e identificado por uma linha tracejada no mapa abaixo.
O projeto acabou por ser chumbado devido aos impactos ambientais que acarretava, mas o bastonário da Ordem dos Engenheiros explica, na TSF, que uma obra desta natureza não é complicada. O problema poderá mesmo nascer do lado burocrático, com o bastonário a admitir que essa dimensão possa atirar os prazos "para 2030".
Faz-se em "dois ou três anos"
Fernando Almeida Santos acredita que a obra pode ser concluída em "dois ou três anos de forma relativamente fácil", desde que se ultrapassem com rapidez as habituais questões "do ponto de vista burocrático, ambiental e de licenciamentos", até porque "os prazos administrativos, hoje em dia, em muitos investimentos ultrapassam largamente os prazos de execução".
Depois, no terreno, "é a mesma coisa do que fazer uma espécie de autoestrada no mesmo trajeto", com as devidas distâncias: "Em vez de estar a fazer-se terraplanagens para colocar alcatrão, é fazer terraplanagens para colocar um gasoduto, que entretanto está a ser construído em fábrica e vai sendo encaixado."
TSF\audio\2022\10\noticias\20\fernando_santos_1_prazos
Esta é sobretudo uma "oportunidade única para Portugal" e que pode trazer dividendos ao país, "mesmo sendo um território de transporte", já que passaria a ser "transportador e fornecedor de um gás que atualmente vem da Rússia para o centro da Europa".
Fernando Almeida Santos não deixa de elogiar a "abertura de França" por ser "altamente benéfica" tanto para a Península Ibérica como para toda a Europa, mas deixa o alerta: "Temos de saber aproveitar a oportunidade e ser decididos."
O caminho do Alto Douro Vinhateiro
Em 2018, o traçado foi chumbado aquando da Avaliação de Impacte Ambiental feita pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), por atravessar parte da área protegida do Alto Douro Vinhateiro.
Na argumentação da APA, citada pelo Porto Canal em agosto, lia-se que uma infraestrutura de "carácter industrial, descaracterizadora do território e dos seus usos" comprometia "a integridade e o carácter, nomeadamente visual, da paisagem cultural do Alto Douro Vinhateiro" e a mesma agência defendia que o projeto "poderia ter equacionado outras opções de desenvolvimento do seu traçado" que minimizassem o impacto na "Paisagem Cultural" e na Zona Especial de Proteção.
Já o Estudo de Impacte Ambiental produzido pela própria REN garantia que o traçado não iria afetar a "sustentabilidade e integridade do Alto Douro Vinhateiro".