Dalila Correia é uma das antigas estudantes que esteve na luta pela preservação da arte rupestre do vale do rio Côa, que é Património Mundial da UNESCO há 25 anos
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Este sábado passam 25 anos sobre a classificação da Arte Rupestre do Vale do Côa como Património Mundial da UNESCO. Foi anunciada a 02 de dezembro de 1998. Um feito para o qual também contribuíram centenas de jovens estudantes, que três anos antes lutaram pela preservação das gravuras contra a construção de uma barragem.
Foi em 1994 que o achado foi anunciado ao mundo. No ano seguinte António Guterres ganhou as eleições legislativas em Portugal e no início de 1996 cumpriu a promessa de mandar parar em definitivo as obras da barragem no rio Côa para que as gravuras rupestres não ficassem debaixo de água.
Em 1995 ficou famosa a luta dos estudantes bem como a frase "as gravuras não sabem nadar" inspirada numa música da banda Black Company. No meio deles estava Dalila Correia. Tinha 17 anos, frequentava o 12º ano de escolaridade em Vila Nova de Foz Côa.
Lembra-se de em novembro de 1994 ter um dia chegado a casa para almoçar e a mãe lhe ter contado que "Foz Côa estava na televisão", quando a então vila "não era conhecida em lado nenhum". A notícia espalhou-se rapidamente e toda a gente ficou "muito confusa". "Como é que tinha havido um achado arqueológico fabuloso do qual os habitantes locais não tinham conhecimento?"
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Quando em fevereiro de 1995, o então presidente da República, Mário Soares, visitou Vila Nova de Foz Côa, "a avenida ficou com um mar de estudantes" locais, do Porto, de Coimbra e de escolas de concelhos vizinhos, "com cartazes e a cantar "as gravuras não sabem nadar"".
"O movimento pelas gravuras é um motivo de orgulho e marcou a minha vida", diz Dalila Correia, hoje com 45 anos. Enquanto adolescente queria ser enfermeira, mas depois da batalha pela preservação da arte do
Paleolítico acabou por se tornar guia do Parque Arqueológico do Vale do Côa durante oito anos, onde é arqueóloga desde 2005.
António Jerónimo tem hoje 49 anos e é dos guias que está no parque arqueológico desde o início. Da época em que como estudante também fez parte do movimento pela arte rupestre do Côa lembra-se da "muita luta" que foi necessária para "convencer os mais velhos, que eram muito céticos em relação às gravuras".
Recorda-se também que entre os visitantes do parque havia que não acreditasse no valor do achado. "Algumas pessoas até nos insultavam quando chegavam à receção. Diziam um palavrão e perguntavam "foi por causa disto que pararam a barragem?"" Com o passar dos anos "os insultos de pessoas que não gostam de arte rupestre foram deixando de aparecer", acrescenta Jerónimo.
Atualmente, a esmagadora maioria dos visitantes vai ver as gravuras com interesse histórico ou científico e já poucos colocam em dúvida a opção pelas gravuras em detrimento da barragem.
Este ano deve bater-se o recorde de entradas no Museu e no Parque Arqueológico do Vale do Côa. A previsão da administração é a de chegar ao final de 2023 com 100 mil visitantes registados.