Diferentes autoridades de saúde dividem-se sobre a eficácia das máscaras contra o coronavírus.
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A doença é a mesma, mas as práticas e os conselhos de diferentes autoridades de saúde sobre o uso de máscaras durante a pandemia de Covid-19 variam de país para país e, sobretudo, de região para região, com uma clara fratura entre aquilo que se aconselha na Ásia e aquilo que se aconselha no resto do mundo.
José Manuel Esteves é presidente da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau. Se para quem está na Europa as imagens que chegam do Oriente parecem estranhas, com praticamente todos a andarem de máscara, para ele o que é estranho são as imagens que chegam de Portugal.
"Aqui não posso entrar em lado nenhum sem máscara", explica, acrescentando que isso é imposto pelas autoridades de saúde de Macau, mas também da China, do Japão, da Coreia do Sul, de Singapura, da Malásia...
A razão são os doentes sem sintomas que se sabe que também podem transmitir o novo coronavírus o que leva a que, segundo garante, a existência da máscara reduza muito a probabilidade de transmissão.
O médico português sublinha que ali, em Macau, estão constantemente a ensinar, por exemplo na televisão, como é que se deve usar a máscara, com todos a saberem que não devem estar sempre a tocar-lhe ou ajustá-la, colocando-a quando têm as mãos previamente desinfetadas.
O Centro de Controlo de Doenças da China diz claramente, nos seus conselhos para combater a Covid-19, que as pessoas devem usar máscaras sempre que saem de casa para lugares públicos.
OMS, ECDC e DGS desaconselham
Pelo contrário, a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) e a Direção-Geral da Saúde (DGS) têm insistido que não há evidências que o uso de máscara previna, de facto, a infeção.
As várias instituições têm mesmo avisado que o uso incorreto de máscara pode aumentar o risco de transmissão pela falsa ideia de segurança e pelo aumentar da frequência com que a pessoa leva as mãos à cara.
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No seu plano de contingência, publicado há duas semanas, a DGS só as recomenda para quem tenha sintomas, cuidadores de doentes com o novo coronavírus e pessoas com algumas doenças crónicas ou suscetibilidade acrescida (como, por exemplo, imunodepressão) na fase mais grave da pandemia, em que já entrámos, e em grandes aglomerados populacionais ou quando se vai a serviços de saúde.
Não há máscaras para todos
Na sexta-feira a diretora-geral da saúde sublinhou outro problema com as máscaras: neste momento não há máscaras para 10 milhões de portugueses, "todos os dias, várias vezes ao dia e usadas corretamente", sendo preciso estabelecer, sublinha, "prioridades" para as pessoas doentes ou de maior risco.
Graça Freitas admitiu, contudo, que "no futuro, havendo máscaras para todos, poderá ser considerada uma medida útil", mas sempre com planos para "ensinar a usar de forma correta as máscaras".
Numa carta publicada pela prestigiada revista científica British Medical Journal , o médico chinês Hongtao Tie, da Universidade de Medicina de Chongqing, admite os riscos do mau uso de máscaras, mas garante que podem ser diminuídos com treino e educação da população.
O uso de máscara evita, segundo Hongtao Tie, que as pessoas mexam na boca e a seguir toquem numa qualquer superfície que mais tarde será tocada por outra pessoa.