OE2021: "Não há nada de investimento na saúde digital. Essa é a verdadeira transformação"
Em declarações à TSF, Miguel Guimarães acusa o Governo de deixar a Saúde de fora nos planos orçamentais para a transformação digital, e sustenta que o investimento em tecnologia e inovação não pode ser exclusivo dos privados.
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Miguel Guimarães critica a falta de investimento na saúde digital patente no Orçamento do Estado para 2021. Na perspetiva do bastonário da Ordem dos Médicos, essa revolução permitiria fazer face ao resto de cuidados para pacientes não Covid com mais eficácia.
No documento orçamental, 290 milhões de euros são destinados ao reforço de infraestruturas e equipamento na saúde, sem menção para a digitalização dos hospitais. "Vejo, com muita pena minha, que no Orçamento do Estado para 2021, em termos daquilo que é o investimento em novas tecnologias, o investimento na saúde digital... Eu não vejo lá nada de substantivo. Eu não vejo lá nada a dizer que nós vamos transformar os nossos consultórios nos hospitais e nos cuidados de saúde primários em verdadeiros consultórios com inovações tecnológicas importantes para podermos utilizar os meios digitais de forma mais rápida, mais adequada e mais eficaz."
"Eu olho para o OE2021 - e ninguém ainda falou nisto, porque as pessoas falam é em contratar mais médicos [no OE para 2021, 100 milhões de euros são destinados à contratação de mais 4200 profissionais de saúde] e em camas para cuidados intensivos -, mas ninguém pensa na verdadeira transformação. A preocupação dos nossos políticos neste momento não é verdadeira transformação digital, mas tapar o sol com a peneira." Miguel Guimarães acredita que é preciso pensar mais além, e acredita que o Ministério da Saúde não está a investir em mudanças que potenciem a recuperação dos cuidados de saúde. Falta "linha condutora que signifique ir mais longe", comenta, em declarações à TSF.
No caso das escolas, 400 milhões de euros estão previstos no OE para a digitalização dos estabelecimentos de ensino. "Este aproveitamento da transformação digital de que toda a gente fala não se está a aplicar na saúde, e é uma pena", comenta o bastonário, que assinala ser "essencial" o investimento público nas novas tecnologias e na inovação. "Esta questão das tecnologias está dependente do setor privado, porque infelizmente o setor público investe pouco nas tecnologias. Investe nos recursos humanos, e, depois, deixa o espaço aberto à iniciativa privada para serem desenvolvidas."
Miguel Guimarães também explica que a transformação digital da saúde é "possível fazer, e com alguma facilidade", e exemplifica: "Nós passamos a vida a carregar no teclado. Eu estou a ver um doente e estou a olhar para o computador, e se calhar os médicos passam 80 ou 90% do tempo a olhar para o computador e só 10% a olhar para o doente."
"Neste momento, já podíamos estar a olhar para o doente e a ditar para o computador aquilo que queríamos que ficasse no diário clínico. Isto já é possível, esta tecnologia já existe", complementa. Acelerar processos, mas também melhorar os cuidados prestados, com base nesta tecnologia, significa renovar hardware e software de que os hospitais neste momento dispõem. O bastonário da Ordem dos Médicos defende a premência de "melhorar e aumentar o acesso aos meios digitais que me permitam, de facto, fazer uma verdadeira transformação digital, no sentido de nós usarmos os meios a nosso favor e não estarmos a fazer uma coisa que aconteceu durante muitos anos: trabalharmos para os meios e os meios não estarem a trabalhar para nós".
Miguel Guimarães lamenta a falta de investimento por parte do Ministério da Saúde que culmina numa "manta de retalhos", em vez de ajudar a criar um "sistema amigável para quem trabalha com ele" e "ótimo para o doente".
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