Desfile para pessoas vulneráveis. Organizador repudia críticos "incompetentes, estúpidos e ignorantes"
Organizador da iniciativa não entende as críticas das juntas de freguesia e deixa palavras duras aos líderes das mesmas, exigindo que se demitam e "vistam o bibe" para voltar à escola.
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"São incompetentes, estúpidos, ignorantes e deviam vestir o bibe que eu vesti quando era criança para ir para a escola." Com a Câmara Municipal de Lisboa (CML) apanhada no meio de uma polémica por estar a organizar um desfile e piquenique com as pessoas mais desfavorecidas da cidade, o responsável pela iniciativa, Henrique Pinto, confessa não entender o episódio e não é meigo nas palavras. Este ano, mais de metade das 24 juntas de freguesia de Lisboa já fez saber que não vai participar na iniciativa.
O desfile foi proposto pela vereadora Laurinda Alves para assinalar o dia internacional para erradicação da pobreza, 17 de outubro. Num e-mail, a vereadora para os Direitos Humanos e Sociais da CML solicitou às juntas de freguesia que dessem a conhecer a "pessoas em situação de vulnerabilidade" a realização de um "almoço em formato piquenique" e de uma "caminhada/marcha" entre o topo da Avenida da Liberdade e o Arco da Rua Augusta.
https://www.tsf.pt/portugal/politica/camara-de-lisboa-quer-piquenique-e-marcha-para-pessoas-em-situacao-de-vulnerabilidade-mais-de-metade-das-juntas-nao-alinham-15245916.html
"Gostaríamos de contar com a colaboração e a participação das Juntas de Freguesia. Assim, vimos por este meio solicitar a divulgação da iniciativa junto de pessoas em situação de vulnerabilidade social, acompanhadas nos projetos dinamizados pela Vossa Junta de Freguesia", pode ler-se no e-mail a que TSF teve acesso.
As primeiras palavras de Henrique Pinto para quem contesta são de um lamento particular: o de que "a pobreza neste país não seja de facto a mais severa, que é a material e social, mas seja a ignorância, e de facto, a intelectual."
A iniciativa, sublinha, "realiza-se desde 2002" e contou "sempre com a CML, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o Instituto da Segurança Social nos últimos cinco anos e o Instituto Português do Desporto e da Juventude" e viu passarem pelo poder concelhio nomes como "Santana Lopes, Jorge Sampaio, Carmona Rodrigues, António Costa e Fernando Medina", a quem se junta o atual autarca Carlos Moedas.
Entre as críticas das juntas de freguesia opositoras está a de que a iniciativa é "um atentado à dignidade das pessoas", argumento que também não cai bem a Henrique Pinto.
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"Não estamos a manipular absolutamente ninguém, não estamos a convidar ninguém para lhe retirarmos dignidade", garante o organizador, que recorre ao trabalho das próprias juntas como exemplo: "A carrinha de uma junta que leva comida ao domicílio não está a expor as pessoas. Uma junta que à sua porta distribui comida não está a expor pessoas."
E sobe o tom. "As pessoas que ouvi esta manhã são totalmente estúpidas, incompetentes e não deviam estar nas juntas às quais presidem, sejam elas do PSD, do BE, disto ou daquilo. É a ignorância total. Esta gente de quem ouvi hoje depoimentos deploráveis devia demitir-se das suas funções porque são incompetentes, estúpidos, ignorantes e deviam vestir o bibe que eu vesti quando era criança para ir para a escola."
A TSF ainda aguarda uma reação da vereadora Laurinda Alves a este caso.