Após coro de críticas, piquenique em Lisboa com pessoas em situação de vulnerabilidade foi cancelado
Iniciativa que previa uma marcha na Avenida da Liberdade e um piquenique foi reduzida a um "momento simbólico" junto à Rua Augusta. À TSF, a vereadora Laurinda Alves fala de um "vergonhoso aproveitamento político" do tema que lamenta "profundamente".
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Depois da chuva de críticas, a iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa que previa a realização de um piquenique e de uma marcha para assinalar o Dia Internacional para Erradicação da Pobreza foi cancelado.
A notícia é avançada pelo Jornal de Notícias, que adianta que o evento proposto pela vereadora dos Direitos Humanos e Sociais, Laurinda Alves, para reunir os munícipes em situação de vulnerabilidade foi reduzido a um momento simbólico. Ao jornal, o presidente da Impossible, associação parceira da Câmara Municipal de Lisboa na iniciativa, refere que as atividades ao ar livre previstas para o período da manhã e da hora de almoço foram canceladas. Só da parte da tarde se vai realizar "um momento simbólico" junto à Rua Augusta.
Henrique Pinto admite ainda que o número de participantes desta edição fica aquém das expectativas da organização. Das 24 juntas de freguesia da capital, mais de metade não aderiram à iniciativa.
À TSF, Laurinda Alves reage à polémica, lamentando "profundamente a atitude" e o que considera ser o "vergonhoso aproveitamento político sobre um tema que a todos nos devia unir". Não esclarece, no entanto, que programação foi cancelada.
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Em causa, dizem os autarcas, está a preservação da dignidade humana que não deve ser exposta. Já na quarta-feira, a TSF tinha noticiado que a vereadora Laurinda Alves tinha enviado um e-mail a solicitar ajuda às juntas de freguesia para que identificassem pessoas carenciadas para participar nesta iniciativa que incluía um "almoço em formato piquenique" e uma "caminhada/marcha" entre o topo da Avenida da Liberdade e o Arco da Rua Augusta.
Um pedido que não foi bem aceite por parte da maioria dos autarcas da cidade. "A pobreza não se combate com 'marchas e piqueniques' mas sim com medidas concretas", escreveu Miguel Coelho, presidente da junta de Santa Maria Maior, nas redes sociais.
"Uma coisa são as ações que desenvolvemos junto das pessoas, outra coisa é expô-las publicamente. É um atentado à dignidade delas", apontou ao JN Carla Madeira, presidente da junta da Misericórdia, acrescentando que foi a primeira vez que a Câmara pediu para identificar as pessoas carenciadas para uma marcha".
Na antena da TSF, Carla Madeira, que é presidente de junta há nove anos, reitera as críticas, afirmando ser "completamente falso" que esta iniciativa se tenha realizado em anos anteriores. "Pelo menos não nestes moldes. As juntas de freguesia nunca receberam nenhum convite para participar neste evento e muito menos lhes foi solicitado para identificarem pessoas carenciadas", sustenta, afirmando ter ficado "estupefacta" com as declarações do responsável da associação parceira da CML.
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Esta quarta-feira, Henrique Pinto deixou palavras duras aos autarcas críticos, que apelidou de "incompetentes, estúpidos e ignorantes", exigindo que se demitam e "vistam o bibe" para voltar à escola.
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A organização tinha também avançado que o Presidente da República faria um discurso de encerramento do evento, mas, à TSF, o gabinete da Presidência disse na quarta-feira não existir "confirmação" de que Marcelo marcasse presença. A nova programação da iniciativa para assinalar o dia da erradicação da pobreza deverá ser conhecida ainda esta quinta-feira.
*Com Melissa Lopes e Rui Cid