Os nervos já estão à flor da pele, mas a Boavista não quer menos do que a melhor pontuação de sempre
A TSF assistiu ao último ensaio da marcha do bairro da Boavista, em Benfica, antes da primeira apresentação, esta sexta-feira, depois de três anos sem marchar.
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Já cheira a verão na Boavista. Ao início da noite, os cafés do bairro estão todos abertos e repletos de pessoas. A temperatura amena permite que pequenos grupos vão conversando à porta de cada estabelecimento. O regresso dos Santos Populares à vida da cidade deve ser tema de conversa. O cenário repete-se quando chegamos ao pavilhão do bairro. São quase 22h00, hora de início do último ensaio, e já chegaram quase todos os marchantes.
A criançada também está à porta. Entre umas jogadas de futebol e umas correrias, prometem que vão estar sempre a apoiar a marcha em todas as atuações. Mas há quem também não falhe. Não só as atuações, mas também os ensaios. "Estamos cá todas as noites", atiram Soraia e Carla. Não vão marchar, mas garantem o apoio moral a toda a equipa, que há meses prepara a coreografia e os figurinos deste ano. E lá soltam um dos hinos mais cantados por altura de festas populares no bairro: "No bairro da Boavista, ninguém desista de vir bailar."
Lá dentro, a música é outra. Os instrumentistas chegam pouco antes dos marchantes e vão afinando para garantir que, na hora de começar o ensaio, a música está no ponto. A cantiga deste ano está mais do que composta e sabida - e está marcada na pauta que os músicos têm à sua frente -, mas a esta hora ainda é um segredo absoluto. Tal como os arcos e toda a coreografia.
As surpresas deste ano lá estão, como pano de fundo, mas o resto da cidade só as vai descobrir pela primeira vez mais logo, no pavilhão Altice Arena, quando as primeiras marchas mostrarem o que valem ao júri que as vai avaliar. Até domingo, vai ser um corrupio de marchantes e bairristas no Parque das Nações, onde a cada noite está marcado um novo espetáculo.
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De volta ao ensaio
Os últimos preparativos correm a bom ritmo, e a coreografia parece estar na ponta da língua, sob o olhar atento do ensaiador Rafael Ribeiro. Há tempo para duas pausas, para beber água ou fumar um cigarro, e os marchantes voltam ao interior do pavilhão para afinar, uma última vez, as vozes e garantir que a coreografia está alinhada ao milímetro. Numa das pausas, Dora Geral confessa à TSF que marchar pelo bairro é o concretizar de um sonho antigo. "Amo o meu bairro, amo a marcha. Era um sonho de criança. Abdico de tudo. De marido, de filhos, de neta, de jantares e aniversários para estar aqui em todos os ensaios, desde março", conta.
Mais uma voltinha, e o ensaio termina. Rute Barroso está fora destas andanças há vários anos, e a poucas horas do regresso não esconde a voz trémula e os nervos que já se fazem sentir. "Muita emoção e gratidão", resume. Staff e marchantes já só pensam na primeira demonstração, esta sexta-feira, mas a grande festa tem um outro dia marcado no calendário. É a 12 de junho, véspera do Dia de Santo António, que a Avenida da Liberdade se vai encher de milhares de pessoas e de muita cor e alegria.
A claque de serviço promete lá estar. "Claro. É para gritar. Não há claque como a nossa. E depois há festa aqui no bairro, à espera da pontuação", dizem. E já arriscam um resultado. Se em 2019 a marcha ficou na 12.ª posição, este ano o palpite arrisca um sétimo lugar. Só já madrugada dentro, a 13 de junho, é que o bairro vai conhecer as pontuações. A festa já começou, e parece estar para durar o mês inteiro.