Parque eólico pode colocar em causa preservação de pinturas rupestres em Santa Comba
Foram encontrados vestígios pré-históricos na serra com cerca de sete mil anos.
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A construção do parque eólico da Serra de Santa Comba está risco, uma vez que pode conflituar com a preservação da maior coleção de pinturas rupestres em Portugal. A investigadora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Mila Simões Abreu, em declarações à TSF, afirma que há claramente incompatibilidades entre a concretização das obras e a capacidade de preservação do património histórico da serra.
Com quase sete mil anos de existência, a maior coleção de pinturas rupestres em Portugal, que está prestes a ganhar o estatuto de Sítio de Interesse Público, pode travar a construção de seis geradores, num investimento superior a 30 milhões de euros.
O consórcio que pretende avançar com a obra afirma que tem autorização desde 2008 para dar seguimento à instalação do sistema eólico e garante que a exploração da estrutura não coloca em causa a preservação do património arqueológico.
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Para a investigadora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Mila Simões Abreu, há claramente incompatibilidades entre a concretização das obras e a capacidade de preservação do património histórico da serra.
Há um ponto pelo qual se pode pegar com vista à contestação do empreendimento: os estudos de impacto ambiental, que - para Mila Simões Abreu - estão desatualizados.
"O estudo de impacto ambiental foi feito há anos, já foram descobertos mais painéis e há estudos que estão a ser feitos para demonstrar que é possível criar uma alternativa", garante a arqueóloga.
Teríamos que recuar sete mil anos para termos um vislumbre daquilo que a serra já foi: um "armazém de ocupação pré-histórica", no qual foram "encontrados vestígios muito importantes", explica a investigadora, desde uma caverna a produtos agrícolas.
Mila Simões de Abreu explica ainda à TSF que o património histórico em Santa Comba é diferente daquele que existe em Foz Côa. As pinturas rupestres são "mais difíceis de preservar" do que as gravuras que estão presentes no Vale do Côa.
Também o Presidente da Federação Internacional de Arte Rupestre, Angelo Fossati, considerou, numa carta dirigida ao Presidente da Assembleia Municipal de Mirandela, que "um conjunto de ventoinhas iria alterar de forma considerável a paisagem" e desfigurar a zona.
O Presidente da Federação Internacional de Arte Rupestre fez ainda menção ao antigo primeiro-ministro António Guterres que, lembra Fossati, suspendeu a construção de Foz Côa, um feito "apontado em todo o mundo como um exemplo a seguir", escreve Angelo Fossati na carta a TSF teve acesso, dirigida ao Presidente da Assembleia Municipal de Mirandela - Francisco José Esteves.
Por enquanto, a empresa que quer prosseguir com a exploração da serra afirma ter em sua posse todos os pareceres legais para avançar com a obra.