Passagem de testemunho. "É um erro pensar que o PCP está desligado do mundo real"
Lobo Xavier e Alexandra Leitão admitem que não conhecem quem é Paulo Raimundo, o sucessor de Jerónimo no cargo de secretário-geral do PCP. Já Pacheco Pereira diz que "as pessoas andam muito desatentas" e que "já estava previsto" que o substituto de Jerónimo de Sousa fosse "um militante deste tipo".
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Quem é Paulo Raimundo? A pergunta acaba por surgir agora que o seu nome foi apontado para substituir Jerónimo de Sousa à frente do PCP. No programa da CNN e TSF, O Princípio da Incerteza, apenas Pacheco Pereira não ficou surpreendido com esta escolha e considera que só quem anda distraído é que se surpreende com a escolha de Paulo Raimundo para secretário-geral do PCP.
"As pessoas andam muito desatentas, mas vai haver uma importante conferência do PCP na qual se falava da substituição de Jerónimo. Não é uma coisa que tivesse caído do céu, estava previsto esse processo para daqui a dias. Por outro lado, podia não ser este o militante escolhido, mas seria um militante deste tipo", indica Pacheco Pereira.
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Para Pacheco Pereira é um erro pensar que o PCP não está ligado ao mundo real, sendo que esta nova geração de políticos comunistas já há muito compõe o tecido das estruturas dos comunistas.
"Esta é uma geração de quadros que se criaram essencialmente na estrutura de funcionários do PCP. Evidentemente, alguns têm origem operária, alguns têm origem em famílias bastante pobres, mas aquilo que é a sua atividade quotidiana é serem funcionários do PCP", refere, sublinhando que "a ideia de que o Partido Comunista está desligado do mundo real é um erro".
"Eles estão muito ligados ao mundo real, pode é não gostar do mundo real que tem. O PCP deve ser dos partidos que tem melhor - qualitativamente e quantitativamente - informação do que qualquer direção partidária tem em Portugal", considera.
Lobo Xavier diz que existe em Portugal uma enorme condescendência com o PCP pelo reconhecimento do papel na luta contra o antigo regime, mas abomina o ideal de sociedade que os comunistas defendem.
"Acho que em Portugal há uma enorme condescendência com o PCP, porque fatiamos a história e reconhecemos um papel na conquista da liberdade, mas temos que desprezar todas as outras fatias", explica.
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"Eu sou realmente anticomunista no sentido de que abomino o modelo de sociedade e de ideologia que o PCP professa. O PCP tem um modelo sociedade, um desprezo pela democracia liberal e pela sociedade livre e equilibrada que nós nos vamos esquecendo", defende.
Lobo Xavier elogia a personalidade de Jerónimo de Sousa e confessa que não conhece o novo secretário-geral comunista Paulo Raimundo.
"Não sei quem é [Paulo Raimundo], não faço a menor ideia, nem isso interessa ao PCP, porque não cumpre os padrões dos partidos nas democracias liberais ocidentais, ou seja, não é possível em nenhum partido de nenhuma ideologia democrática, de repente, surgir com um secretário-geral que só o Pacheco Pereira e alguns fiéis conhecem", afirma.
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"Não houve congresso, houve uma indicação, mas não é tanto isso que me preocupa. Porque é que o PCP havia de ter uma democracia interna se não quer democracia externa?", questiona Lobo Xavier.
Também Alexandra Leitão ficou surpreendida com a escolha de Paulo Raimundo e reconhece que dele pouco sabe e, por isso, para ela, é uma carta fechada.
"Não conheço Paulo Raimundo", admite Alexandra Leitão, referindo que a escolha "parece ser uma continuidade do perfil do próprio". "Não sei em que termos aconteceu internamente. Como nós estamos habituados a ver o PCP a fazer, não se fez na praça pública, ainda assim o que vai estar em causa é saber se o Paulo Raimundo vai ter esta empatia e capacidade de comunicação que são características pessoais de Jerónimo de Sousa."
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Alexandra Leitão lembra que Jerónimo de Sousa foi quem deu o pontapé de saída para a Geringonça e, com ele, sai também do Parlamento o último deputado da Constituinte.
"Com ele sai o último deputado da Constituinte, o único deputado que ainda estava na Assembleia e que esteve na Constituinte. O passado mais recente é que é, na verdade, a primeira pessoa que na noite das eleições em outubro ou novembro de 2015 disse que o PS só não seria governo se não quisesse. Ele é quem dá o pontapé de saída para a Geringonça e isso, para um apoio parlamentar à esquerda de um Governo minoritário do PS, foi uma coisa muito diferente naquele momento", relembra.
Alexandra Leitão recorda as palavras de Jerónimo que, no domingo, se descreveu como um "político de afetos com solidez ideológica". "Uma excelente descrição de si próprio e, de facto, ele foi um secretário-geral do PCP muito bem-sucedido, apesar das últimas eleições."