Apesar de o governo pretender cortar o número de beneficiários do Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas (POAPMC), há cada vez mais famílias a pedir ajuda no Centro Porta Amiga da AMI, em Almada.
Corpo do artigo
O telefone de Lucas Vieira toca todos os meses, quando o cabaz de alimentos está pronto para ser levantado, no Centro Porta Amiga da AMI (Assistência Médica Internacional), em Almada. Desempregados, Lucas e a mulher fazem alguns biscates, que não chegam para sustentar, sem apoios, o casal e as quatro filhas. Desde 2019, recebem o cabaz alimentar do Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas (POAPMC). O leite, o queijo e os cereais "para as meninas" são os alimentos que mais apreciam, mas a somar às tostas, latas de atum, sardinha e cavala, alguns produtos frescos e até um frango congelado, Lucas não podia estar mais grato. "É um cabaz completo", que já permite poupar muito nas compras. "O dinheiro vai para a água, luz, renda, televisão. E assim vamos vivendo, um dia de cada vez."
TSF\audio\2022\06\noticias\20\cristina_lai_men_cabazes
A família é "muito organizada", elogia Maria da Luz Cachapa, directora do Centro Porta Amiga da AMI, em Almada. Desde 2019, o Centro duplicou o número de beneficiários de POAMPC, de 60 para 120. Mas o apoio alimentar chega também através de empresas e, no total, este centro da AMI distribuiu no ano passado, 2673 cabazes alimentares por 327 famílias.
TSF\audio\2022\06\noticias\20\maria_da_luz_cachapa_1
Maria da Luz Cachapa nota que há "cada vez mais pessoas a procurarem os nossos serviços e a pedirem ajuda". Por isso, embora compreenda a decisão do governo em reduzir o número de beneficiários do POAPMC, a título pessoal, considera que "todo o apoio é pouco". A directora do Centro Porta Amiga, em Almada, confirma que em alguns meses, há alimentos em falta nos cabazes. "Por exemplo, o leite. Houve um tempo que não veio, mas já foi reposto", garante. As falhas são explicadas pela impugnação de concursos públicos, por parte de alguns fornecedores. "É uma questão que transcende a própria segurança social", destaca a responsável.
TSF\audio\2022\06\noticias\20\maria_da_luz_cachapa_2
Nos últimos meses, o cabaz de Lucas Vieira deixou de incluir a sardinha e a cavala, mas a família tem algumas reservas. "Não é muito, mas dá para sobreviver", assegura Lucas, que não consegue dar tudo o que desejaria às filhas. Por isso, quando Helena, a filha mais velha, manifestou vontade de ter um iPhone, quando completasse 18 anos, Lucas pediu ajuda aos irmãos. No dia do aniversário, a surpresa não poderia ter sido maior. "Elas (as filhas) sabem que não temos capacidade" e quando Helena abriu a caixa com o telemóvel, "a miúda começou a chorar", conta Lucas emocionado e assumidamente um "pai babado". "Somos uma família feliz (...) gerimos bem as coisas" e às refeições, "pedimos sempre a Deus, para agradecer que venham esses alimentos para nos ajudar". O sonho de Lucas também é simples: "Encontrar um emprego." Gostava de trabalhar para a câmara municipal de Almada, a "varrer ruas. Ser cantoneiro era uma coisa que eu gostava", conclui com um sorriso.
* A autora não escreve segundo as normas do novo acordo ortográfico