
Artur Machado/Global Imagens
Queda pode atingir 13,1% se existir segunda vaga de Covid-19. Desemprego atinge 10%. Números não integram impacto do programa de estabilização lançado pelo governo.
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O Banco de Portugal (BdP) reviu em forte baixa as previsões para a economia portuguesa em 2020. O Produto Interno Bruto (PIB) deverá recuar 9,5% neste ano, em vez dos 5,7% estimados em março (mês em que o regulador publicou dois cenários, sendo que este valor era o calculado no mais pessimista).
Sublinhando um contexto "muito adverso" provocado pela pandemia de Covid-19, o BdP realça no Boletim Económico de junho que a "natureza sem precedentes da atual crise" implica que "as projeções tenham um grau de incerteza muito superior ao habitual".
Se os números se confirmarem, será a pior contração económica desde os tempos da Grande Depressão e da ditadura militar portuguesa: o BdP estima que o PIB português tenha diminuído 9,7% em 1928.
O regulador justifica a degradação das estimativas com a duração do período de confinamento.
E se existir uma segunda vaga de Covid o recuo será ainda maior, atingindo 13,1%.
A taxa de desemprego vai subir para mais de 10% em 2020, caindo para 7,5% em 2022. Esta evolução do desemprego, escrevem os peritos, "depende criticamente do impacto das medidas de apoio às empresas e famílias e da sua duração, que são determinantes na mitigação da destruição de capacidade instalada na economia associada à pandemia".
Há que ter em conta que os cálculos do BdP foram fechados em meados de maio, pelo que ainda não contabilizam o impacto do Programa de Estabilização Económica e Social apresentado entretanto pelo governo e que inclui medidas como o novo lay-off, ou a contribuição extraordinária da banca.
Também não são tidos em conta "efeitos potenciais sobre o investimento público resultantes dos novos instrumentos de política económica acordados a nível europeu".
A retoma em 2021 e 2022 será forte, com crescimentos de 5,2% e 3,8% respetivamente, colocando a riqueza produzida no país em valores semelhantes aos de 2019, "mas consideravelmente abaixo do esperado antes da pandemia", lê-se.
A instituição ainda liderada por Carlos Costa escreve que "no segundo trimestre de 2020, a taxa de variação em cadeia da atividade [comparação de trimestres consecutivos em vez de homólogos] deverá diminuir numa magnitude sem precedente histórico. Embora rodeada de elevada incerteza, estima-se que esta redução possa atingir um valor em torno de 15%".
A queda do PIB encontra justificação na contração de quase todas as parcelas que o compõem: consumo privado (-8,9%), investimento das empresas (-11,1%), procura interna (-8,2%), exportações (-25,3%) e importações (-22,4%) terão quedas muito significativas; o consumo público é a exceção, com um aumento de 0,6%.
Depois começará uma retoma lenta: "o gradual levantamento das medidas de contenção, num contexto de relativo controlo da pandemia, deverá traduzir-se numa retoma da atividade económica a partir do terceiro trimestre de 2020".
Turismo não recupera em dois anos
O Banco de Portugal avisa que o setor do turismo deverá ter uma recuperação mais lenta do que outros: "para as exportações de serviços antecipa-se uma queda muito mais acentuada em 2020, que reflete o perfil da componente de turismo e de outras exportações de serviços a ela associados".
A instituição avisa que "os constrangimentos criados pela pandemia às viagens implicam que o setor do turismo seja particularmente afetado, perspetivando-se uma redução drástica dos fluxos de turismo internacional em 2020". "A recuperação posterior deverá ser muito gradual", avisa o BdP, sublinhando "o contexto de elevada incerteza e de potenciais alterações nas preferências e nos comportamentos dos consumidores destes serviços e tendo também em conta a elevada elasticidade rendimento da despesa em turismo".
O BdP calcula que em 2022 "o nível das exportações reais de turismo deverá situar-se substancialmente abaixo do valor de 2019, implicando que o total das exportações de bens e serviços fique cerca de 7% abaixo do nível desse ano de referência".
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