"Políticas não estão a surtir efeito" na Saúde e número de alunos sem professor "subiu muito mais"

Rita Chantre (arquivo)
As prioridades e a estratégia do Governo foram debatidas no Fórum TSF, com queixas da Saúde à Educação
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O Governo nega que haja cortes no orçamento da Saúde para o próximo ano, mas os administradores hospitalares e a Ordem dos Médicos consideram que o problema está mais nas políticas do que no orçamento, ainda que se queixem também de cortes no SNS. Na Educação, os sindicatos criticam também o facto de muitos alunos, em novembro, ainda terem professores em falta.
As prioridades do Governo para 2026 foram o tema desta terça-feira do Fórum TSF e Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), considerou que está demonstrado que as políticas não têm funcionado para a Saúde.
"Quando nós olhamos para os grandes temas que preocupam as pessoas, o acesso, por exemplo, a cuidados de urgência quando eles são necessários ou o acesso a uma consulta ou a uma cirurgia em tempo adequado, de facto, e olhamos para números concretos, percebe-se que as políticas não estão a surtir o efeito desejado", afirma.
O presidente da APAH dá exemplos do que falha: "Nós continuamos a ter urgências a encerrar, continuamos a ter esperas de muitas horas em serviços de urgência, continuamos, quando olhamos para listas de espera, a ver doentes que esperam para lá do tempo clinicamente adequado, mais até do que esperavam há um ano pelo que mostram os últimos relatórios que foram publicados na semana passada, o que nos mostra que as medidas que estavam previstas no plano de transformação e emergência não foram suficientes, não foram se calhar em muitos casos as necessárias."
O bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, concorda e diz que Luís Montenegro falhou na promessa de melhorar a Saúde.
"Eu não vou entrar neste coro de quem pede a demissão da ministra ou no outro coro que pede a sua manutenção no cargo, porque mais do que propriamente pessoas, aquilo que é verdadeiramente importante são as políticas de saúde e a sua execução", argumenta.
Ainda assim, segundo Carlos Cortes, o problema não é só deste Governo: "Nós tivemos nos últimos dez anos, ou pouco mais de dez anos, salvo erro, seis ministros da Saúde. Isso nada alterou no caminho de degradação que o SNS tem tido nestes últimos anos. Portanto, é preciso haver aqui diálogo, é preciso as pessoas estarem juntas neste desígnio de transformação do SNS."
Na Educação, a principal queixa é a falta de professores nas escolas. José Feliciano Costa, secretário-geral da Fenprof, diz que as coisas estão piores do que há um ano.
"Neste momento, temos perto de 400 horários diretamente nas contratações de escola, afetando já diretamente mais de 30 mil alunos. Por comparação com o ano passado, os números são sempre superiores, mas estes cerca de 30 mil alunos deste momento, e o senhor ministro conhece estes números também, nós temos de considerar a semana de 27 a 31 de outubro, onde muitos dos horários ao fim de alguns dias têm de ser retirados, mas passarão para esta semana, acrescentando a estes números que acabei de dar agora. Portanto, o número de alunos que são afetados pela falta de professores subiram muito mais", explica.
Já Josefa Lopes, do secretariado nacional da Federação Nacional de Educação (FNE), diz que o problema também é geográfico.
"Nós estamos em novembro e está agora a decorrer um concurso extraordinário para professores. Isto é estranho, não é? Num momento em que o ano letivo está a decorrer, os professores deveriam estar todos colocados, mas infelizmente não. Há muitos alunos que só mais tarde irão ter professor e ao longo de todo o ano certamente irá haver falta de professores nas escolas, embora este não seja um problema idêntico em todo o país. Atinge mais, é mais grave em determinadas zonas", afirma.
Mas, nas regiões em que as coisas estão melhores, também é à custa dos profissionais: "Um problema de natureza geográfica também faz com que, nalgumas escolas, a falta de professores seja enorme e nas escolas de outras regiões até se vai resolvendo, nem que seja à custa do sacrifício de muitos professores que estão nas escolas e que são obrigados a aceitar horas extraordinárias, o que naturalmente é um acréscimo do trabalho, é um acréscimo de esforço para muitos."