Tarefeiros "têm, se quiserem, o Ministério da Saúde na mão". Risco de paralisação das urgências é "assustador"

Artur Machado/Global Imagens (arquivo)
Em declarações à TSF, Helena Terleira, que liderou o movimento Médicos em Luta, diz que "era uma questão de tempo" até os tarefeiros ameaçarem paralisarem as urgências
Corpo do artigo
Há uma ameaça ao Serviço Nacional de Saúde (SNS): mais de mil médicos tarefeiros estão a preparar uma paralisação das urgências. O protesto vai acontecer na altura em que sair o diploma com que o Governo quer baixar o valor por hora a pagar a estes médicos prestadores de serviços.
O jornal Público conta esta quarta-feira que este grupo de médicos foi criado na rede social WhatsApp. O protesto terá a duração de pelo menos três dias porque estes profissionais se sentem "ostracizados" e dizem estar preparados para defender, "sem receios nem hesitações", a valorização do seu trabalho.
Este é um protesto que promete avançar à margem dos sindicatos e faz lembrar o movimento Médicos em Luta. Na altura em que surgiram, em 2023, quiseram obrigar o então ministro da Saúde, Manuel Pizarro, a negociar com os sindicatos, já que os médicos recusavam fazer mais do que 150 horas extraordinárias por ano. Helena Terleira liderou este movimento que nasceu no hospital de Viana do Castelo e agora fala com a TSF.
Helena Terleira conta que a "luta" do seu movimento foi mais "difícil" de ser notada, porque os prestadores de serviço substituíam constantemente os "colegas" do Serviço Nacional de Saúde.
"Não havendo valorização das carreiras médicas, a atratividade do SNS não existe e, como tal, isto [paralisação dos tarefeiros] era uma coisa que estava à vista de acontecer, era só dar tempo: a que não entrassem médicos para a carreira e a que os hospitais ficassem cheios de prestadores de serviço."
Para esta responsável, os tarefeiros "têm, se quiserem, o ministério na mão".
O contrário não poderá acontecer. Ou seja, os médicos do SNS não chegam para substituir os tarefeiros que fazem trabalho nas urgências dos hospitais. E se a ameaça for levada para a frente pode causar constrangimentos "perturbadores" por todo o país. "Se eu acho que isto é assustador? Acho sim."
Na opinião de Helena Terleira, o único culpado desta situação é o Ministério da Saúde que não tem valorizado as carreiras no Serviço Nacional de Saúde. E essa circunstância tem levado a que muitos profissionais abandonassem o SNS e se tornassem tarefeiros, a ganhar mais.
"A diferença de preço/hora é exorbitante", assinala, exemplificando: ela própria, que trabalha há 38 anos, recebe cerca de 23 euros brutos por hora, um interno de especialidade recebe 12 e um tarefeiro "fala-se em 40, 50, 60 e 70".
