"Pomos os velhos para debaixo do tapete." Associações lamentam falta de respostas, Governo reconhece que é preciso fazer mais
Carolina Quaresma e Manuel Acácio
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O Governo reconhece que ainda há muito trabalho a fazer na proteção dos idosos. No Fórum TSF, a secretária de Estado da Ação Social e da Inclusão, Clara Marques Mendes, garante que o Executivo de Luís Montenegro está a tomar medidas para apoiar os mais velhos.
Citando os dados da direção-executiva do Serviço Nacional de Saúde e da Segurança Social, o jornal Público dá conta de que há idosos internados nos hospitais que esperam há quatro anos por um lugar num lar. Há um mês, estavam internados mais de 800 utentes. Já tiveram alta, mas continuam à espera de uma vaga num lar.
Em declarações no Fórum TSF, Clara Marques Mendes adianta que o Governo tem cinco projetos-piloto em funcionamento, que, no total, abrangem 600 pessoas. "É um apoio de cuidados continuados juntamente com o envolvimento da Segurança Social, que dá resposta a estas situações dos internamentos inapropriados, porque vai permitir acompanhar as pessoas, para elas poderem sair dos hospitais e terem o acompanhamento nas suas casas", explica.
Por outro lado, refere a secretária de Estado, estão "em concurso mais cinco projetos-piloto de apoio domiciliário, que permite que as pessoas estejam nas suas casas, possam envelhecer nas suas casas e tenham um acompanhamento assegurado de 24 horas, sete dias por semana com equipas multidisciplinares".
Ainda assim, Clara Marques Mendes assume que o Governo ainda têm muito trabalho pela frente.
Os problemas não estão todos resolvidos, mas foi dado um grande passo. Fizemos o maior aumento de sempre da comparticipação do Estado às respostas sociais e isso tem sido reconhecido pelo setor.
A governante afirma ainda que o Executivo "reconhece as instituições como o principal parceiro do Estado no que diz respeito às respostas sociais". "Fizemos o maior aumento da comparticipação de sempre. Claro que não conseguimos fazer tudo num ano", diz.
"Ninguém investe nos lares." Associações dizem que "não há respostas"
A presidente da Associação de Gerontólogos acusa os governos (anteriores e o atual) de fazerem muito pouco em relação aos mais velhos. Flávia Machado fala de um país que não se preocupa como devia com os idosos.
Portugal continua a pôr os velhos para debaixo do tapete os velhos. Quando põe os velhos, põe, na verdade, toda a população, põe também as crianças, os adultos em idade produtiva, põe-nos a todos para debaixo do tapete. Que respostas é que temos para satisfazer estas necessidades?
Flávia Machado lembra que se fala "nas limitações e das alterações do PRR para a criação de vagas nos lares, na rede nacional de cuidados continuados integrados", mas não se fala "de paliativos, que também continuam a estar bastante aquém do desejado". No que diz respeito aos lares, "a verdade é que esta é uma resposta social, não uma resposta de saúde", considera.
"Aquilo que continuamos a verificar é que se procura que essas respostas prestem cuidados de saúde, mas com financiamento muito aquém daquilo que uma resposta de saúde exige", sublinha.
Já Maria do Rosário Gama, presidente da Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados, queixa-se da falta de investimento nos lares.
Ninguém investe nos lares, os lares privados não são acessíveis à maior parte das pessoas. Muitas pessoas não têm hipótese de ir para lares nem de pagar rendas e foram viver para quartos privados. É uma coisa absolutamente incrível viver dentro de quatro paredes, portanto, estamos numa situação muito grave e não há respostas.
No mesmo sentido, Isabel Gomes, da Confederação de Reformados, Pensionistas e Idosos (MURPI), defende que o Estado está a falhar no apoio aos mais velhos e lembra uma iniciativa recente do movimento.
"Fizemos entrar na Assembleia da República uma petição que, em mês e meio, conseguiu cerca de 13.000 assinaturas. Subiu à Assembleia da República, mas depois cada partido fez o favor de apresentar uma proposta e votar apenas a sua proposta, o que deu direito a que, mais uma vez, os reformados ficassem para trás", lamenta.
No caso dos cuidados continuados, o Governo reprogramou as verbas do PRR e cortou nos apoios a estas unidades. José Bourdain lembra que a partir de janeiro há quatro unidades de cuidados continuados que vão fechar e lamenta que não se tenha aproveitado esta oportunidade.
"O Governo assume isso, embora numa primeira fase tenha desmentido, mas recentemente enviou um e-mail a assumir que íamos perder 137,5 milhões do PRR para os cuidados continuados. Portanto, são dois terços das 5500 camas previstas que vão avançar, não chegam sequer a duas mil, é cerca de um terço. Foi uma oportunidade perdida", atira.
O presidente da Associação Nacional de Cuidados Continuados recorda que até ao final do ano vão fechar mais quatro unidades de cuidados continuados, "no total de 110 camas, três no Norte e uma no Alentejo". "Poderão ser mais, nos últimos quatro anos eram mais de 400 camas", acrescenta.
