Falta de vagas nos lares deixa idosos à espera nos hospitais. Ausência de respostas sociais "tende a piorar"

Unsplash (arquivo)
Setor avisa que a solução passa pelo aumento de vagas em lares ou de camas nos cuidados continuados, mas os cortes no PRR vieram dificultar ainda mais a criação de novas respostas. A situação tende a agravar com a chegada do inverno e do Natal
Corpo do artigo
Mais de 800 idosos com alta clínica, internados nos hospitais, aguardam por uma vaga numa estrutura residencial para idosos (ERPI). Os dados da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde e da Segurança Social, divulgados esta segunda-feira pelo jornal Público, mostram que, ao mesmo tempo, tem diminuído o número de admissões de idosos em lares. Se em 2021 se registaram mais de duas mil admissões, no ano passado, o valor caiu para as 923 admissões. O jornal adianta que há pessoas a esperar quatro anos por uma vaga num lar, com os distritos de Lisboa e Porto a serem os mais pressionados.
Em declarações à TSF, Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, acredita que o número de doentes a necessitar de uma resposta social ultrapassa os dois milhares, incluindo aqueles que aguardam uma vaga nos cuidados continuados ou precisam de outras soluções. "Esta é uma situação com um impacto enorme no funcionamento dos hospitais e na vida dos doentes. Quando temos as urgências cheias, os doentes têm de esperar por uma cama para poderem ser internados, muitas vezes, porque as camas estão ocupadas por alguém que não deveria estar ali", realça o representante dos administradores hospitalares.
Xavier Barreto considera que é essencial aumentar o número de camas e lamenta que, com a recente reprogramação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), muitas das vagas que seriam criadas foram retiradas do plano. "Nós tínhamos muita esperança no PRR e no aumento de vagas, quer da rede de cuidados continuados, quer do número de vagas em lares, mas essas duas metas foram prejudicadas e agora, por exemplo, das cinco mil vagas que iam nascer nos cuidados continuados, vamos ficar apenas com um quinto", refere. "Estamos muito preocupados", completa Xavier Barreto.
Para o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, a solução passa por aumentar o número de vagas nas redes que recebem os utentes, "particularmente nos momentos de transição, em que estão mais dependentes", por aumentar os apoios aos cuidadores informais, porque "a melhor solução é sempre trazer as pessoas para casa e não as institucionalizar" e ainda por aumentar o número de equipas de cuidados domiciliários. "Há toda uma estrutura que tem de ser criada para apoiar estas pessoas no fim das suas vidas e que, de facto, não foi criada", remata.
Também ouvido pela TSF, o presidente da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social, Lino Maia, defende que a solução tem de passar, obrigatoriamente, pelo aumento de vagas disponíveis. "Além das pessoas que estão no hospital e precisam de resposta, os lares têm também listas de espera bastante grandes, por isso, são necessários mais lares", diz.
"Lamento que da parte da administração do PRR tenha existido um recuo no financiamento para a construção de novos lares", adianta, denunciando ainda "os baixos apoios do Estado" às estruturas que recebem os idosos internados em hospitais, o que se traduz numa "retração dos lares em receber" estas pessoas.
O presidente da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social sublinha que o sistema vai, muito em breve, deparar-se com outros dois desafios: a chegada do inverno e a aproximação do Natal. "A situação tende a piorar nesta altura do ano. Com o Natal à porta, há mais abandono de pessoas nos hospitais e há mais pressão por parte dos hospitais para transferirem essas pessoas. São dois períodos no ano mais difíceis, o princípio do inverno e depois também o princípio do verão. É preciso estarmos bastante atentos a estas situações porque estão em causa pessoas cuja dignidade temos que respeitar", destaca.