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Tudo junto equivale a uma super montanha, tão alta como 19 Montes Evereste em cima uns dos outros - 19 vezes 8849 metros de altitude. Os portugueses também deitam fora roupa com etiqueta e muitos dos presentes de Natal que são roupas para os mais novos acabam por nunca ser usados
Uma investigação da Epson (multinacional japonesa presente em 97 países e que tem no seu leque de atividades a produção de tecidos sustentáveis), realizada em outubro passado, questionou sete mil famílias europeias. Foram avaliadas as respostas de mil portugueses com filhos menores de 16 anos e concluiu-se que cada família portuguesa deita fora 11 peças de roupa, por criança, todos os anos.
Cada criança recebe, em média, mais de um milhão de peças até ter 16 anos. Quer isto dizer que todos os anos oferecem-lhes umas 63 peças novas. Em todo o país, que tem um 1,5 milhões de menores de 16 anos, a conta chega aos 17 milhões de peças de roupa, só dos mais novos.
A cada ano, são 17 milhões de calças, casacos, t-shirts ou sapatos que acabam, muitas vezes, no lixo, ou seja, em aterro sanitário.
Roupa por estrear também acaba no lixo
Até aqui falamos de roupa usada, mas 41% dos pais também admitem que guardam roupa de criança nunca usada, ainda com etiquetas, nos armários. São ainda mais os que nem têm esse trabalho e deitam fora roupa que os filhos nunca chegaram a vestir: 52%.
Há 56% dos inquiridos que pensam em comprar roupas mais sustentáveis para si próprios, mas, depois, um em cada três reconhece que não se preocupa muito com o destino da roupa dos filhos, tentando desfazer-se dela o mais depressa possível.
Quanto gastam os portugueses a vestir os filhos?
Em média, as famílias portuguesas gastam 647,80 euros, por ano, no guarda-roupa de cada criança. Cada peça é usada, em média, apenas 30 vezes antes de ser descartada.
Durante o período de Natal, as crianças recebem cerca de sete peças de roupa de amigos e familiares, mas uma em cada sete dessas peças nunca chega a ser usada. Há ainda 4% dos portugueses que dizem comprar roupa para os filhos todas as semanas.
Porque se deita roupa fora?
O estudo mostra falta de conhecimento quase generalizada: 59% dos pais portugueses não sabem que a maioria das roupas infantis têm fibras sintéticas que podem demorar até 450 anos a decompor-se no ambiente.
Além disso, 22% das famílias admitem ter deitado roupa das crianças no lixo comum por falta de tempo para procurar alternativas mais sustentáveis.
O crescimento rápido das crianças é apontado como um dos principais motivos para deitar roupa fora. Os inquiridos justificam que muitas peças acabam por ficar pequenas antes de serem suficientemente aproveitadas. Há ainda ofertas duplicadas e compras por impulso que ajudam a acumular roupa que pouco ou nada é usada.
Que peças de roupa se deitam fora?
No último ano, cada família portuguesa descartou, em média, por criança:
2,4 pares de calças ou calções
2,4 pares de peúgas
1,1 t-shirts
1,1 pares de sapatos
0,7 camisolas
0,6 pares de calças ou jeans
Portugal continua à espera de legislação para reciclagem de têxteis. A TSF questionou o Ministério do Ambiente, mas ainda não obteve resposta.
"Legislação teima em não sair do papel"
A J. Gomes é uma empresa com sede na Covilhã que recolhe resíduos têxteis e produz fio reciclado a partir de desperdícios na indústria têxtil e dos lanifícios. Em declarações à TSF, a gerente, Catarina Gomes, lamenta a falta de legislação.
"A indústria não sabe muito bem o que fazer, se é responsável, se vai continuar a poder mandar para aterro, se vai continuar a poder incinerar, se vai ter mesmo de introduzir 20% de material reciclado outra vez na cadeia para que a economia circular deixe de ser uma falácia. Estamos num impasse, falam que a legislação é para cumprir, mas, depois, quando chega a altura, eles vão protelando no tempo", explica à TSF Catarina Gomes.
Desde o início do ano que deveria ter sido transporta a diretiva comunitária que impõe a reciclagem dos desperdícios da indústria têxtil, mas, segundo a gerente, "a legislação teima em não sair do papel".
Catarina Gomes assegura que, do lado das empresas que reciclam, como a J. Gomes, está tudo pronto.
"Estamos prontos a tratar do resíduo em Portugal e eu penso que vamos ser pioneiros nisso, assim se cumpra a legislação em toda a Europa. Se toda a Europa fizer com que esta legislação seja cumprida, Portugal pode estar, por uma vez, no topo, porque temos a matéria-prima, as confeções e os recicladores que podem fazer com que a matéria-prima esteja toda centrada", acrescenta.