"Estado não tem política preventiva" e "exames de condução extremamente permissivos": a raiz da sinistralidade rodoviária

Vasco Neves (arquivo)
No Fórum TSF, o presidente da Associação Portuguesa de Escolas de Condução apresenta medidas e culpa o Governo pela falta de prevenção. Contudo, o líder do Automóvel Clube de Portugal aponta o dedo ao ensino: "Não há ninguém que não consiga tirar a carta em Portugal. Depois as pessoas vão para as ruas praticar, não sabem guiar, produzem acidentes, matam-se e matam os outros"
A Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M) acusa no Fórum TSF o Governo de falhar na prevenção de acidentes. O Observatório da Segurança Rodoviária identificou 40 pontos negros de sinistralidade e a A5, entre Lisboa e Cascais, é a pior da lista. O documento apresenta também dados, ainda provisórios, relativos a este ano: ocorreram 140.118 acidentes rodoviárias nas estradas portuguesas, mais 4.375 do que no mesmo período do ano passado, que provocaram 423 mortos, menos 33, mas mais 40 feridos graves (2.681) e mais 450 feridos ligeiros (43.285).
Estes números mostram que "o Estado não tem uma política preventiva", faltando auditorias e inspeções às estradas e falhando no cumprimento de normas europeias. É o que acusa Manuel João Ramos, da ACA-M, no Fórum TSF desta quinta-feira
É necessário apostar na prevenção para mudar esta realidade, porque "não vale a pena colocar Clearasil depois do ponto negro existir, é preciso evitar que o ponto negro chegue a existir".
Por sua vez, António Reis, presidente da Associação Portuguesa de Escolas de Condução, defende que a sinistralidade se combate com a alteração "de fundo" de vários procedimentos, como "reajustar o processo de trocas e equivalências de cartas estrangeiras, estar atentos às fraudes nos exames teóricos" ou, quando um jovem começa a conduzir aos 17 anos, ser obrigatório estar acompanhado até aos 18 anos.
E António Reis concorda com Manuel João Ramos no apontar o dedo ao Executivo. Garante, por isso, que não vale a pena "sacudir a água do capote" quando a "ausência de uma estratégia de segurança rodoviária desde 2020" está perante todos.
Já o presidente do Automóvel Clube de Portugal, Carlos Barbosa, identifica como "grande problema" o "ensino e os exames: as pessoas vão para as escolas de condução não é para aprender a guiar, mas é para tirar a carta. Não há ninguém que não consiga tirar a carta em Portugal. Depois as pessoas vão para as ruas praticar, não sabem guiar, produzem acidentes, matam-se e matam os outros, porque os exames são extremamente permissivos".
"O Exame Prático em Lisboa tem cinco percursos que estão decretados em Diário da República. Ou seja, no dia antes do exame, o aluno vai com o instrutor fazer esses cinco percursos que estão decretados. Não se pode fazer o exame em outro percurso que não sejam esses cinco que estão no Diário da República. Existe um tipo de treino nesses cinco circuitos. [O aluno] Faz lindamente os cinco circuitos, mas se tiver de ir ao Marquês de Pombal ou se tiver de ir a uma autoestrada, se calhar não está preparado."
E arrasa as campanhas de combate à sinistralidade da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária: são "ridículas".

