"Preocupação com baixas remunerações." Avelino Oliveira assume liderança da Ordem dos Arquitetos
A posse do novo presidente da Ordem dos Arquitetos está marcada para o fim da tarde desta quarta-feira no Teatro Thalia, em Lisboa.
Corpo do artigo
O arquiteto Avelino Oliveira assume, esta quarta-feira, a liderança da Ordem dos Arquitetos, sucedendo a Gonçalo Byrne, que liderou a Ordem nos últimos três anos. Além de ter ateliê no Porto, dá aulas nessa cidade e em Lisboa. Entre outros dossiers, propôs aos arquitetos lutar por remunerações justas.
A posse do novo presidente da Ordem dos Arquitetos está marcada para o fim da tarde desta quarta-feira no Teatro Thalia, em Lisboa. Antes, Avelino Oliveira revelou à TSF quais são as suas maiores preocupações em relação à profissão.
TSF\audio\2023\10\noticias\11\avelino_oliveira_grande
"Temos uma enorme preocupação pelos honorários e pelas baixas remunerações dos arquitetos, pela fiscalidade verde, pela burocracia e pela legislação existentes e também pelas carreiras e pelo Estado das carreiras em Portugal dos arquitetos. Depois, a outro nível de organização, pela organização da ordem e por uma maior intervenção pública. Todos os estudos indicam que a remuneração média dos arquitetos está na casa dos mil euros e somos todos, internacionais, como os estudos nacionais. Somos muitos arquitetos, portanto existe, obviamente, essa ideia equívoca junto da população de que o arquiteto tem uma carreira com uma progressão clara e uma remuneração adequada. Não é verdade, esse é um dos nossos principais problemas e é um problema muito marcante entre os jovens arquitetos, mas também muito marcante nos primeiros anos das carreiras, onde a progressão é muito difícil e nós vemos que geralmente os arquitetos tendem a acumular diferentes atividades e acabam por não poder desempenhar as suas funções ou os seus papéis, até os seus projetos com os índices de qualidade de que têm capacidade por causa das dificuldades económicas que têm", explicou Avelino Oliveira.
Para que o cenário mude, o responsável quer esclarecer primeiro que a situação é transversal tanto na função pública como no setor privado.
"Efetivamente, os nossos colegas que estão em funções de arquiteto público, de arquiteto ao serviço do Estado, não têm uma carreira em regime especial. Nós hoje estamos a assistir na sociedade a um debate, por exemplo, com a carreira dos médicos ou com a carreira dos professores. Gostava de dizer que eles têm carreiras especiais e que os arquitetos recebem muito menos do que essas carreiras que muitas vezes estão em debate e, portanto, é fundamental para que nós fixemos os nossos melhores quadros, para que as nossas empresas tenham melhor qualidade e para que os arquitetos possam desempenhar um trabalho na construção contemporânea mais sustentável, com mais inovação, com as melhores ferramentas", esclareceu à TSF o novo presidente da Ordem dos Arquitetos.
No entanto, garante que o Governo pode esperar da Ordem dos Arquitetos "total colaboração", mas também uma postura mais reivindicativa.
"Temos de ter a Ordem mais presentes nos principais debates. Não pode acontecer aquilo que aconteceu, por exemplo, relativamente às grandes infraestruturas e grandes obras onde acho que muitas vezes os arquitetos são esquecidos nestas matérias. Vejamos o caso do aeroporto de Lisboa. Na comissão técnica não temos nenhum arquiteto urbanista, o que significa que nalguns momentos os arquitetos têm sido passados para segundo plano e temos que elevar a voz para reivindicar. Esperamos que o Governo comece finalmente a olhar para estes assuntos com maior atenção", afirmou.
Na opinião do novo líder da Ordem dos Arquitetos, estes profissionais têm sido relegados para segundo plano por serem uma classe que fala mais para dentro do que para fora e por não terem uma "cultura muito reivindicativa".
"Temos de alterar esse aspeto. Costumo dizer que mais facilmente vemos que os arquitetos procuram trabalho e decidem mudar o seu local de trabalho e até emigrar do que saem à rua para reclamar as suas melhores condições. É sempre uma matéria difícil. Da parte da ordem dos arquitetos isso tem de mudar porque a situação chegou a um ponto em que acho que já prejudica a sociedade. Já começamos a ter problemas tão simples como em determinados territórios termos dificuldade em ter arquitetos disponíveis para trabalhar em determinados municípios. Já existe escassez de meios. Há municípios neste momento que não têm arquitetos nos seus quadros em Portugal ou que têm muito poucos ou que têm dificuldade em ter arquitetos em trabalhar lá para apreciar os projetos das pessoas e as necessidades que ali estão prementes. Isto por um lado, por outro lado começamos a ter uma coisa muito comum, que é os nossos arquitetos terem grande qualidade, as nossas faculdades são muito conhecidas. Os arquitetos portugueses encontram com facilidade trabalho lá fora e isso, num médio prazo, pode ser preocupante", defendeu Avelino Oliveira.
As condições têm de se tornar mais atrativas para se conseguir reter os arquitetos portugueses em Portugal. Nos últimos anos já saíram centenas para o estrangeiro.
"Estamos a investir num curso que é longo. Tem cinco anos mais ou menos de estágio para ingressão na ordem profissional. É um curso longo que depois não encontra nas principais instituições, até nos ateliers, um quadro remuneratório e de progressão de carreira equivalente ao esforço que é feito para esse curso", acrescentou o presidente da Ordem dos Arquitetos.