Proprietários de discotecas do Cais do Sodré denunciam especulação imobiliária
Os senhorios exigem que Jamaica, Tokyo e Europa fechem até 14 de abril. Os proprietários das discotecas falam em grandes negócios imobiliários e defendem que o edifício pode ser recuperado sem implicar o encerramento das discotecas.
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Nos edifícios que hoje alojam três das mais emblemáticas discotecas de Lisboa deve passar a funcionar um hotel. Os senhorios já notificaram os proprietários do Jamaica, Tokyo e Europa para encerrarem os estabelecimentos dentro de um mês para dar início às obras de requalificação do edifício.
Os arrendatários consideram estar-se perante um caso de especulação imobiliária. "Há aqui um negócio imobiliário muito grande, os proprietários já venderam o edifício a uma imobiliária, que por sua vez, já vendeu a um grupo francês que quer fazer um hotel no edifício, não é mais que, primeiro, uma forma ligeira e expedita de conseguir fazer uma venda sem dar opção de compra dos espaços aos arrendatários e segundo, fazer uma venda por valores muito acima daquilo que seria vender aquele edifício com três discotecas no piso de baixo", sublinha Pedro Vieira, proprietário do Europa, à agência Lusa.
Os donos das discotecas dizem que a nova lei do arrendamento não defende o património cultural. Com a nova lei, depois de o senhorio conseguir aprovar o projeto, basta uma notificação aos espaços em causa e com indemnizações que não chegam a cinco mil euros para cada, conseguir, no prazo de seis meses, denunciar o contrato e fazer com que os espaços desapareçam do local onde estão.
Os responsáveis pedem à Câmara Municipal de Lisboa que não considere a qualificação do edifício como uma obra de remodelação que obrigue à desocupação do espaço, "conforme previsto na nova lei do arrendamento e nas alterações ao código civil", diz Pedro Vieira.
Os donos das discotecas defendem que é possível recuperar os edifícios sem encerrar os estabelecimentos. Na quinta-feira passada entregaram à autarquia relatórios técnicos assinados por peritos a comprovar como é possível fazer a obra sem que as discotecas sejam despejadas.
A notícia do encerramento surpreendeu os donos. "Aquilo que estávamos a contar era que viesse a haver uma interrupção dos espaços ou um agravamento do valor das rendas, uma atualização do seu valor, mas não que tivéssemos de sair do edifício, daquele local", explicou Fernando Pereira, proprietário do Jamaica e do Tokyo.
Em declarações à agência Lusa, Gonçalo Riscado, presidente da Associação dos Comerciantes do Cais do Sodré, não quis alongar-se nos comentários, deixando-os para os proprietários dos bares, avançando, no entanto, que a notícia dos timmings de um mês o apanhou "de surpresa".
De acordo com Gonçalo Riscado, trata-se uma "perda não quantificável" para o Cais do Sodré, reconhecendo que é a história daquela zona e da própria cidade de Lisboa que "está a ser desfeita".